sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Um texto

Uma sexta que se esvai na sua 23ª hora. Deveria dormir, pois o sábado, aos gritos, autointitula-se como longo. Fuma seu cigarro na janela, pensando em sair com um cachecol. Sente vontades de usar sua nova luz negra.
Apesar do vento, assume para si que melhor seria, ao menos, caminhar e observar as folhas no chão, as chepas de cigarro e as latinhas sendo colhidas por pequenos transeuntes. Pensa em putaria, no íntimo.
Desde que chegara aos 35 anos, no auge de sua produção intelectual – pois fazia mestrado, era um solitário bem resolvido, mas com terríveis recaídas. É como se realmente o cio não tivesse envelhecido na longa história da ancestralidade até a civilização. Como um religioso fundamentalista tem seus rituais duros e perpétuos, ele sentia sempre por dois ou três dias uma angustia que se esvaia diante da epiderme alheia, liberta de roupas e morais. Depois, como se a ejaculação fosse um bem sagrado, retorna a ser um solitário bem definido, até mesmo auto-suficiente. Perde-se nos dias e noites que somem. Come frutas, produz artigos, escreve cartas e tem amigos. Mas naquela maldita cota mensal, quase um mandamento de seu corpo, gosta de ereção, cerveja barata e de locais esfumaçados. Aqueles movimentos de quadris em que liberamos os chakras sexuais! Um corpo chama outro. Quer deslizar acompanhado. pela madrugada em vastos campos verdes de idéias ruborizantes.. Pensa no rijo. E no riso do gozo. Gozar, precisava urgentemente sair e gozar. Faria um roteiro de tipo sórdido. Cavaria possibilidades e sua mente pôs-se a construí-las. Dedicou-se a encontrar documentos, preservativos. Até mesmo usou perfume, coisa que detestava. E pensou em bucetas, e beijos e vielas. Até em praças e banheiros cogitou situações insinuantes. Não queria prostitutas. Queria moças cuja fantasia eram como a sua. Estava pronto, seu pênis já ereto de tantas fotografias eróticas que foram tornadas filmes a passar pela sua cabeça. Fechou a janela e sentiu o frio. Enrolou seu pescoço num cachecol vermelho e foi buscar outras duas distrações para o terrorismo sexual que se propunha para a noite de extravagância da libido: cigarros e seu MP4 com suas canções etíopes recém-achadas. Trancou sua porta, abriu as vontades. Estava eufórico como quem está num safári. Faria como se estivesse sendo dirigido de alguma maneira por Tinto Brass. No 13º lance da escada tropeçou. Foi achado pelos vizinhos no dia seguinte.

3 comentários:

Nane Pereira disse...

Bah! Muito bom o texto! Gosto desse estilo, carregado de sentidos, cheiros, gostos e decadência humana.
"Trancou sua porta, abriu as vontades." Vá que no fundo penso em putaria mesmo... Só não vale tropeçar.rss. Valeu!

Rodrigo Oliveira disse...

porrada! Grande texto. E q o Cio nunca envelheça.

Ali Assumpção disse...

bem foda! (foda é bom!)