O Multiculturalismo de Daiana Schvartz
Viegas Fernandes da Costa
Se Eric Hobsbawm percebeu o século XX como a “era dos extremos”, este início de século XXI parece afigurar-se como uma possível era das contradições. Os discursos e os mecanismos da globalização iluminam e ao mesmo tempo sufocam o local, nosso tão cultuado multiculturalismo espanta-se ante o maniqueísmo das novas guerras santas. Entre espanto e deslumbre, vemos a arquitetura virtual das pontes de fibras óticas ligar culturas e mundos antes inimagináveis, e aviões derrubarem torres. Ao ecumenismo pregado dos púlpitos de Oslo, a convivência com o discurso que demoniza o islã. Sim, nossa pós-modernidade alimenta medos seculares, e entre cirurgias bariátricas e a desnutrição extrema, continuamos marchando em nosso desatino, matando frangos virados para Meca e purificando nossos templos com os turíbulos sagrados.
A artista plástica Daiana Schvartz parece apontar para esta era das contradições em sua exposição “Indoor”, que ocupa o Museu de Arte de Blumenau até o dia 14 de setembro. Originalmente pensadas para o espaço urbano – o que efetivamente aconteceu com os painéis da exposição “Outdoor: arte fora das portas” – as imagens mostram enormes orelhas invadidas por fones de ouvido e ramalhetes de fios e fones, onde o que mais importa não são as técnicas utilizadas pela artista, mas o conceito. E nada mais eficiente para retratar nossa pós-modernidade confusa e esquizofrênica que orelhas e fones.
A artista plástica Daiana Schvartz parece apontar para esta era das contradições em sua exposição “Indoor”, que ocupa o Museu de Arte de Blumenau até o dia 14 de setembro. Originalmente pensadas para o espaço urbano – o que efetivamente aconteceu com os painéis da exposição “Outdoor: arte fora das portas” – as imagens mostram enormes orelhas invadidas por fones de ouvido e ramalhetes de fios e fones, onde o que mais importa não são as técnicas utilizadas pela artista, mas o conceito. E nada mais eficiente para retratar nossa pós-modernidade confusa e esquizofrênica que orelhas e fones.
O fone de ouvido (e agora o i-pod) constitui-se como um símbolo do nosso individualismo cosmopolita. A pluralidade cultural chegando aos nossos ouvidos através das milhares de músicas que baixamos da internet, e nossa surdez para com um “outro” que tenta nos falar, que berra ao nosso lado, e de cuja presença só nos damos conta quando este nos toca ou nos fere. É o que nos permitem pensar as imagens de “Indoor”: incontáveis fones de ouvido que se arrastam, qual vermes, para dentro de nossas orelhas, ensurdecendo-nos. E se a música se constituiu na história humana como local da socialização, agora nos individualiza, alienando-nos na hiper-estimulação sonora, que nada diz.
“Indoor”, de Daiana Schvartz, como toda boa arte, adverte sobre seu tempo, compreendendo-o, e nos convida a ver e ouvir este “outro” que o multiculturalismo afirma existir.
Viegas Fernandes da Costa é escritor e historiador, autor de “Sob a luz do Farol” (2005) e “De espantalhos e pedras também se faz um poema” (2008).
“Indoor”, de Daiana Schvartz, como toda boa arte, adverte sobre seu tempo, compreendendo-o, e nos convida a ver e ouvir este “outro” que o multiculturalismo afirma existir.
Viegas Fernandes da Costa é escritor e historiador, autor de “Sob a luz do Farol” (2005) e “De espantalhos e pedras também se faz um poema” (2008).
Um comentário:
é, esta coisa do excesso de informação e falta de convívio anda pegando. Já viram que loucura aquelas festas onde na pista não toca música alguma, mas cada pessoa vai com um mp3, e escuta e dança a música que escolher?
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