quarta-feira, 27 de julho de 2011

Escritos da Carne em Itajaí

Mostra fotográfica e poética retratando o erótico abre nesta sexta-feira, na Casa Aberta

Itajaí recebe nesta sexta-feira, 29 de julho a Exposição Escritos da Carne, que está circulando pelo Estado de Santa Catarina, trazendo diferentes formas de representar o erótico através da literatura e da fotografia. A abertura da exposição acontece na Livraria e Espaço Cultural Casa Aberta (www.casaberta.com.br ), simultaneamente ao lançamento de dois livros.

A mostra Escritos da Carne integra projeto de mesmo nome  (www.escritosdacarne.blogspot.com ), viabilizado através do Edital Elisabete Anderle, da Fundação Catarinense de Cultura, de autoria da historiadora, pesquisadora e professora universitária, Carla Fernanda da Silva, que há algum tempo pesquisa questões relacionadas ao corpo, ao erótico e à sexualidade humana.

São 21 imagens de pessoas/casais, com textos eróticos grafados sobre seus corpos de diferentes maneiras, produzidas por sete fotógrafos -Aline Assumpção, Charles Steuck, Carla Fernanda da Silva, Carlos Lobe, Ivan Schulze, Mariana Florêncio e Sally Satler. Cada casal  fotografado escolheu um texto que tivesse especial significado em sua vivência do erótico, e foi também co-autor das imagens, contribuindo na construção das cenas, que são parte da narrativa.

Segundo Carla, a proposta é representar diferentes corpos, diferentes casais, trazendo a literatura erótica para o corpo, com o objetivo refletir sobre o papel do erótico na contemporaneidade, e provocar um diálogo com o público, fazendo-o questionar-se sobre a vivência de sua sexualidade e a relação com seu corpo. A diversidade de concepção do erótico se concretiza a partir do diálogo entre fotógrafos e fotografados.

"A literatura erótica emana do corpo para a escrita, em Escritos da Carne, fazemos com que esta literatura retorne para o corpo, para a pele", comenta Carla.


Boa Literatura

Além da abertura da exposição, estão marcados para a mesma noite o lançamento do livro de contos, Quarteto de Cordas para Enforcamento, do escritor e dramaturgo, Gregory Haertel, e do livro de poesia “O Retrato da Nudez Eólica”, da jovem escritora Cláudia Iara Vetter, ambos da editora Liquidificador ( www.liquidificador.art.br/produtosculturais ).

Após o romance Aguardo (2008), Gregory Haertel  apresenta aos leitores um livro de contos.Todos os textos que compõem a obra foram escritos entre 2001 e 2005, já no formato em que estão sendo publicados. “Poucas alterações gramaticais e de pontuação foram feitas na minha leitura para o lançamento deste livro, e todas elas com o cuidado de preservar o que estava escrito. Esta não é, portanto, uma coletânea de contos, e, sim, um livro que esperou bastante para ser lançado.”, explica. Quem acompanha a obra de Haertel como dramaturgo vai se deparar com algumas semelhanças entre os textos e peças da Cia Carona de Teatro (Blumenau), já que alguns dos contos serviram de inspiração durante o processo de montagem de peças da Cia.

“Com sua linguagem crua e ousadia narrativa, “Quarteto de cordas para enforcamento” provoca e lacera; para além da moral, devolve-nos uma poesia capaz de incomodar.”, escreve Viegas Fernades da Costa na orelha do livro.

Gregory deve divertir-se muito quando escreve. Quase posso adivinhá-lo escancarando um sorrisão que expõe dentes e malícia, ardiloso a brincar com (de)formação de frases, (des)construção de conceitos, (re)criação de valores e julgamentos.”, comenta o diretor de teatro Pépe Sedrez, no prefácio da obra.

Já a jovem escritora Cláudia Iara Vetter, lança a segunda edição de sua primeira obra -após editar e bancar sozinha a primeira e pequena edição de sua obra, Cláudia obteve agora patrocínio do Fundo Municipal de Cultura de Blumenau para reeditar o livro.

(Cláudia Iara Vetter )Traça as inscrições de seu corpo – arranhões, tatuagens, chagas antigas. Caminhamos consigo por sua estrada “bruta e malfeita”, onde o que é secreto nos é oferto como um presente manualmente esmerado. No percurso d’O Retrato da Nudez Eólica, Cláudia mostra que de tudo só restam fragmentos. Assim como nos legou Safo, a grande poeta da Antiguidade, o amor abala o espírito como um vendaval que desaba sobre os carvalhos.”, comenta o poeta, Vinicius Coelho.

Sobre a Casa Aberta
A Casa Aberta é um dos mais antigos sebos de Santa Catarina e faz parte do universo dos bons sebos brasileiros. Instalada em uma edificação tombada pelo patrimônio, A Casa Konder, abriga um rico acervo da produção literária que circulou por Itajaí.
Do livro novo ao usado, você pode fazer uma viagem em um ambiente agradável, bem no coração do centro histórico de Itajaí. Além de sebo, livraria e espaço cultural, a Casa Aberta é também editora (www.editoracasaaberta.com.br )



Serviço:

Abertura da Exposição 'Escritos da Carne'
Lançamento do Livro  'Quarteto de Cordas para Enforcamento'
Lançamento do Livro 'O Retrato da Nudez Eólica'
Data: 29 de julho | Sexta-feira
Horário: 20h
Local: Casa Aberta | Itajaí- SC
Rua: Lauro Muller, 83 - Centro

terça-feira, 26 de julho de 2011

Carta aberta para Tiago




“A hierarquia não é somente piramidial: o escritório do chefe está tanto no fundo do corredor quanto no alto da torre”. (Deleuze).



Sei de onde você escreve e porque escreve. Em grande parte seus novos argumentos já são velhos. Nem por isso desconsidero-os. É justamente por sua relevância que resolvi escrever este breve texto buscando estabelecer algum diálogo. Afinal, aquilo que para você se apresenta como uma linha de fuga pode funcionar justamente como uma linha de captura.


Já faz muito tempo que não é mais possível compreender o Estado da mesma forma que os teóricos da ciência política moderna o consideravam: de um lado sua imagem libertadora e redentora de todas as necessidades humanas, e de outro, um enorme monstro repressor que através de seus aparelhos ideológicos suprimem as possibilidades de emancipação humana. Os movimentos juvenis de 1968 nos ensinaram que o problema da política não está mais nas estruturas, mas está nos desejos, nos fluxos, nos afetos e nas possibilidades de criação. Ao invés de ter no Estado o elemento central de problematização, passou-se a refletir sobre as relações de poder que produzem formas de linguagem, subjetivação, resistência e saberes. Para além do caráter repressivo do poder, buscou-se seu elemento produtor da história e de relações em sociedade, ampliando de forma significativa a concepção de política que não poderia mais estar restrita nas formas de representação burocrática estatal. Mas como fica o Estado em meio a isto tudo? Ora, o Estado é mais um destes lugares onde se materializam estas relações de poder e investem de forma privilegiada na sociedade através de um conjunto de instituições que foram constituídas nos últimos 200 anos.


Há uma novidade nisto tudo que você percebeu em seu artigo. Durante muito tempo as artes e ciências estiveram ligadas a financiamentos privados. Isto fazia com que o artista tivesse que estar submetido diretamente ao gosto de quem assumia o papel de mecenas no processo de criação. Evidentemente, que ao longo da história da arte podemos indicar inúmeras subversões desta regra, mas de uma maneira geral o mercado sujeitava a arte (fazendo uso da expressão do título de seu artigo). Foi somente nas últimas décadas que o conceito de “cultura” foi incorporado na linguagem estatal: basta lembrar que o Minc foi criado somente em 1985 e até hoje passa por um processo de estruturação governamental. Novamente, para além do Estado, foi neste mesmo período vivemos processos de monumentalização da cultura em nossas sociedades, construídos discursivamente e politicamente através da disneyficação das cidades, folclorização, espetacularização da vida cotidiana. Este processo investe de maneira significativa em nossa subjetividade e restringe outras possibilidades de criação artística e intelectual que colocam em questão as próprias relações de poder. Sim, no capitalismo, cultura tornou-se mais uma mercadoria – mas seu significado está em disputa. Por isso, não podemos mais conceber a arte de forma essencialista e romântica que desconsidere as políticas de Estado e do próprio mercado. Mesmo que de forma crítica, nossas ações precisam se dar a partir das potencialidades apresentadas pelo mundo contemporâneo.


Desta forma, as reivindicações de políticas públicas vão muito além do financiamento do fazer artístico, mas concentram-se na criação de políticas de fomento e fruição para a sociedade em geral. O velho “faça você mesmo” que pode ter sido sinônimo de liberdade em algum momento, hoje se apresenta justamente como a forma de restringir outras possibilidades de existência para as pessoas. Por que um jovem não pode ter um horizonte maior do que um balcão de uma loja no shopping ou uma máquina de costura em uma facção?



Abraços

Ricardo Machado, historiador

ver: http://www.clicrbs.com.br/jsc/sc/impressa/4,182,3413311,17609

quarta-feira, 20 de julho de 2011

OFICINA AUDIOVISUAL EM FLORIPA

1ª OFICINA DE INTRODUÇÃO À PRÁTICA AUDIOVISUAL: DO DE SENVOLVIMENTO À PRODUÇÃO


Desenvolver o processo de produção cinematográfica com noções teóricas e práticas de criação audiovisual e com a realização de um filme é a proposta da oficina promovida pelo Fundo Municipal de Cinema (Funcine) e a produtora Novelo Filmes. As inscrições são gratuitas e estão abertas. Serão selecionados cinco roteiros para os encontros entre os realizadores e os ministrantes, que vão ocorrer todas às terças-feiras, de 6 de setembro a 22 de novembro, das 14 às 18h, na Fundação Cultural Badesc, com 30 horas/aula. Dos cinco roteiros, um será escolhido para ser filmado. Ao final, será fornecido certificado àqueles que participarem de 75% das atividades.
Interessados na “1ª Oficina de Introdução à Prática Audiovisual: do desenvolvimento à produção” podem fazer as inscrições pelo site http://portal.pmf.sc.gov.br/entidades/funcine/. Os roteiros selecionados devem ser representados por uma equipe formada pelo diretor, roteirista e produtor do projeto. A equipe vencedora terá todos os equipamentos fornecidos para realização do curta com orientação dos profissionais ministrantes da oficina, que contará também com o apoio da Orbital Filmes da Onda Sonora.
Os ministrantes são Cíntia Domit Bittar, formada em cinema e vídeo pela Unisul e diretora de “Qual queijo você quer?”, curta rodado com o Prêmio Funcine e selecionado para os festivais de Paulínia e Gramado; Carol Gesser, formada em cinema pela UFSC, produtora do Censo Audiovisual Catarinense e diretora de arte e maquiagem; Will Martins formado em cinema e vídeo na Unisul, produtor, diretor e roteirista.
Maria Augusta Vilalba Nunes e Lucas de Barros completam o quadro dos ministrantes e também cursaram cinema na Unisul. Maria fez mestrado em literatura na UFSC. Lucas é graduado em edição e pós produção digital na escola Soho Editors, de Londres.
A oficina é dividida em três fases. Na primeira, há 10 encontros teóricos sobre conceituação criativa e desenvolvimento de projeto. Na segunda fase, as propostas de filmes desenvolvidas na primeira fase serão defendidas oralmente para uma banca, que irá escolher o projeto para a terceira fase, quando o roteiro será filmado, com assistência de técnicos de fotografia e operador de câmara e som da oficina. O curta será montado pela Novelo Filmes.


Para acessar o regulamento e a ficha de inscrição acessar o site:


http://www.pmf.sc.gov.br/entidades/funcine/


O quê: 1ª Oficina de Introdução à Prática Audiovisual: do desenvolvimento à produção.


Quando: de 6 de setembro a 22 de novembro de 2011, às terças-feiras, das 14 às 18h


Onde: Fundação Cultural Badesc. Rua Visconde de Ouro Preto, 216, Centro, Florianópolis.


Quanto: gratuita.




Serviço:

Fundo Municipal de Cinema de Florianópolis - FUNCINE

Rua Antônio Luz, 260 - Forte Santa Bárbara

Centro, Florianópolis, Santa Catarina

Cep: 88010-400

Horário de funcionamento: segunda a sexta feira, das 13 às 18h

Fone: (48) 3224-6591


oficina de fotografia para professores


O Ponto de Cultura "Fotografia para todos'' é um projeto do Foto Clube de

Santa Catarina, aprovado pelo edital "Mais Cultura" e irá realizar em Blumenau

nos próximos dias uma formação para professores de artes ou ensino

fundamental das redes de ensino municipal e estadual.


A oficina é totalmente gratuita, e inclui certificação.


As inscrições podem ser feitas até o dia 22 de julho

direto no nosso site www.fotografiaparatodos.com.br


terça-feira, 12 de julho de 2011

um bom motivo para ligar a tevê

foto: kiko koch

Hoje, 12/07 - Sala de Notícias em Debate Especial Universidades Parceiras - co-produção com FURB TV, em rede nacional.

Tema: Os desafios da produção teatral no Brasil

Sala de Notícias em Debate encerra a série especial de 11 programas produzidos pelo Canal Futura e por instituições da rede de universidades parceira. Gravado no Teatro Carlos Gomes, a discussão são os desafios da produção teatral no Brasil. O programa, realizado em parceria com a FURB TV, da Universidade de Blumenau, mostrou como opera a movimentação cultural a partir do teatro numa cidade fora do eixo Rio/São Paulo: o mercado de trabalho para os atores, a formação de plateias, a importância do acesso à arte.
Desta conversa participaram Pita Belli, professora do curso de teatro da FURB e organizadora do FITUB; Pepe Sedrez, diretor da Cia Carona e da Escola do Teatro Carlos Gomes, de Blumenau; e Lígia Cortez, atriz e diretora da Escola de Teatro Célia Helena, de São Paulo. Participaram também na plateia alunos e professores da FURB e atores em atividade na cidade.
Durante o programa, Amanda Pinheiro estará online no chat do Futura.
O endereço é www.futura.org.br/chat

Terça-feira, 12 de julho, às 21hs.

Chat a partir de 21h30.

Assista também ao vivo na internet



O Rio, eu Rio

Palavra mesma, duplo sentido. De uma parte, “o rio” substantiva porção d´água a correr pelas entranhas. Itajaí-Açú. Rio teimoso, tinhoso. Sobe e desce sem pedir licença. Quando cheio de tudo, faz da margem segunda casa; das ruas, hospedagem. Invade avenidas, faz moradores reféns. É movimento e contenção. De outra parte, a conjugação do verbo “rir” na primeira pessoa do singular no presente do indicativo: “eu rio”. Blumenau. Cidade que se quer séria mas repleta de chistes. Nas artes visuais, surge um humor subterrâneo. Eis o arranjo: Bruno Bachmann em seu ateliê-quarto, em suas cadernetas-telas faz graça com a questão da violência urbana, aqui transposta para as paredes. Belíria Boni nos apresenta uma improvável aranha gigante a andar pelas paredes. Biba Schmidt promove um sutil deslocamento que faz estremecer a superfície do papel. Aline Assumpção e Charles Steuck preparam um oswaldiano banquete que bem poderia ser servido no melhor restaurante da cidade. Daiana Schwartz dialoga com o rio Itajaí-Açú e trabalha num jogo de veladuras com imagens pré-existentes. Ivan Schulze recorre ao humor do cotidiano e, por fim, Aline Assumpção esbarra nos bastidores – nem sempre éticos – do circuito cultural blumenauense.

Fernando Boppré
Curador



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ARTE NA CIDADE

MOSTRA SESC DE ARTE CONTEMPORÂNEA

Aline Assumpção

Belíria Boni
Biba Schmitt

Bruno Bachmann

Charles Steuck

Daiana Schvartz

Ivan Schulze


ABERTURA - 12 DE JULHO 20h
* Segue até 12 de agosto.


segunda-feira, 11 de julho de 2011

Pela vida nas cidades (Texto completo)

Seja através da museificação da cidade ou pela difusão de uma cidade espetacular, a noção de marketing urbano produziu uma cidade pensada como imagem para o turista, mas restringiu as possibilidades de vivências públicas. Nas últimas décadas, Blumenau construiu uma paisagem carregada de referências a uma concepção de passado, mas que de forma complementar reproduz modelos muito próximos de um padrão mundial das redes de fast-food, shopping centers e parques temáticos. Concomitantemente passa por um processo de privatização dos espaços públicos pela especulação imobiliária e a conseqüente gentrificação (enobrecimento das áreas com expulsão da população mais pobre). Através de políticas públicas e investimentos privados áreas “revitalizadas”, são na verdade, revalorizadas pelo mercado imobiliário e com isso, levam a população empobrecida ou esteticamente transgressora para distâncias ainda maiores das melhores áreas e dos equipamentos urbanos. Ou seja, normalmente os projetos que pretendem revitalizar estão justamente implicados em retirar as vivências dos territórios.

Este processo de empobrecimento da experiência urbana tornou o medo permanente e, por isso, a constante reivindicação da própria população de mais vigilância e mais controle sobre si mesma. Só que esta mesma vigilância acaba produzindo ainda mais medo: o medo da rua, o medo da diferença, medo do contato e, sobretudo, o medo de estar fora do controle. Esta mercantilização do espaço nos divide e separa, e com isso, nos retirou o poder de decisão e ação sobre as possibilidades de circulação, socialização e trocas no espaço urbano. Além disso, não cessa de nos retirar a própria possibilidade da existência de uma experiência física urbana enquanto prática cotidiana.

Evidentemente que este caminho não é de mão única. Há muitos exemplos de experiências críticas a esta concepção de espaço e de cidade: desde os poemas de Baudelaire, a contracultura da geração beatnik, a deriva dos Situasionistas e as inúmeras intervenções artísticas nas cidades. Atualmente, podemos indicar uma nova “primavera das ruas” através das ocupações das praças de Tahir no Cairo, Plaza Del Sol em Madrid e no caso de Blumenau, as recentes ocupações da Prainha através do movimento que vêm se identificando como “Vamosiuní”. Estes movimentos, normalmente de jovens, indicam a necessidade de revitalizar as ruas, mas no sentido vital que esta palavra carrega, não simplesmente no sentido econômico. Isto será possível somente com a presença da vida e do sentido mais original da palavra política (pólis=cidade). Revitalizar não se trata de construir mais cenários, mas que possamos discutir as formas de apropriação do espaço público. É primordial a participação da população nas decisões sobre a cidade, mas, além disso, neste momento precisamos retomar a experiência efetiva e a vivencia em espaços urbanos. A cidade precisa deixar de ser cenário para passar a ser efetivamente um palco.

*Historidor e professor da Furb.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Blumenau: política cultural e exclusões.

Márcio Cubiak , Respública Cultural

Blumenau, município catarinense localizado no chamado “Vale Europeu” acumula alguns anos seguidos de descaso e miopia em se tratando de políticas culturais (o que é uma política cultural[1]?). Essa situação é pano de fundo de uma batalha entre o campo artístico e cultural do município contra a surdez e mudez do prefeito Kleinübing (DEMo ou ex-DEMo, dá no mesmo)

Mas um fato precisar destacado: essa tensão cultural acompanha o desenvolvimento da Colônia, em 1850, até os dias de hoje, em que realizamos conferências de cultura anualmente, fruto de uma política cultural que perdura há mais de 160 anos. O peso da elite local, imigrantes alemães ou os chamados “teuto-brasileiros”[2] a constituição da memória simbólica coletiva é enorme, com investimentos sistemáticos em toda a estrutura política do município, entre 1850-1940, em torno do nacionalismo alemão tipicamente século XIX, criando seus mitos[3] através da desvalorização do Outro, como no caso dos açorianos, tidos como “preguiçosos e não feitos ao trabalho” (SEYFERTH, 1981; FERREIRA, 2000; FROTSCHER, 2007). O período pós 1945, quando termina o Governo Vargas e a política de nacionalização tem seu abrandamento, a elite local buscou ressignificar o discurso cultural dos anos anteriores na condição, agora, de mercadoria. Nos anos 1960 são acionados os primeiros esforços na consolidação de uma estrutura turística, na construção de uma cidade-imagem turística.  Os anos 1980, marcados por duas grandes enchentes, é catártico, momento do “renascimento alemão”, amplificando mitos, promovendo festas e exclusões.

A história local, portanto, ainda é marcada pela monocultura, numa simplificação e reinvenção da tradição que, diante de crises estruturais do município (urbanística, ambiental, modelo de desenvolvimento), se apega a memória do passado e a sua venda como souvenir. Quando se fala de Blumenau, são esses valores cultivados pela elite que “aparecem”, emergindo uma cidade distorcida. O fato é que a produção cultural local é, em sua maioria, menosprezada pelo poder público, pela publicidade do município, pois a cidade-imagem só amplifica o seu “quadrilátero fotogênico” (FLORES, 1997). A grande produção cultural de Blumenau está caoticamente territorializada nos bairros afastados do centro, na “margem” simbólica da exclusão. Olhos azuis e loiros cabelos vendem toalhas e cervejas.

Os bairros blumenauenses possuem sociabilidades específicas, mas também, características da tal periferia. Nela, invisíveis, encontram-se pessoas, muitas delas nascidas em Blumenau, outras vindas de municípios e estados diferentes. São comunidades que possuem dinâmicas próprias e que articulam inúmeras referências culturais: urbana, rural, da cidade natal e da nova cidade. O resultado é uma identidade cultural gerada a partir da tensão entre universos simbólicos de diferentes espacialidades e territorialidades. Essa multiterritorialidade (ver HAESBAERT, 2006), no entanto, não é abstrata: essas comunidades são, concretamente, espaços da desigualdade, da ausência dos serviços públicos de qualidade, o espaço da ocupação ilegal.
 
A política cultural, portanto, praticada pelo poder público, com aval de segmentos da elite local, está centrada na atualização constante desse mito civilizatório, presente no nacionalismo do século XIX e na Colônia de Blumenau, também. O que quero dizer é que Blumenau tem sim uma política cultural, alimentada por são reminiscências de cunho étnico com os princípios da democratização cultural[4] com a quase totalidade dos esforços centrados nas artes eruditas. O governo municipal e seu equipamento de cultura, neste sentido, seguem na contramão do debate nacional e internacional.

As tensões culturais, geradas pela invisibilidade cultural promovida pela elite local com o apoio e financiamento do governo municipal, ainda podem ser mensuradas atuando fortemente no território chamado Blumenau. Nos últimos anos, alguns segmentos da sociedade e do campo cultural blumenauense resolveram encampar a idéia de políticas públicas de cultura, de aprimoramento institucional dos equipamentos e da gestão cultural, mas, acima de tudo, de denunciar a monocultura financiada pelo governo municipal. Houve, por exemplo, cinco edições da conferência municipal de cultura, que se tornou a principal arena da apresentação de demandas do segmento para a criação do seu Plano Municipal de Cultura. Mas a ‘boniteza’ acaba por aqui: todas as propostas sugeridas pelas cinco plenárias finais das conferências de cultura e que se tornaram documentos orientativos ao governo, foram ignorados. Isto é, a efetividade da conferência, em avanços institucionais por parte do governo, é nula! 

No último mês, veio a tona algumas situações crônicas que demonstram o esvaziamento do papel da Fundação Cultural de Blumenau, bem como da incompetência de seus gestores. Contramão total da história, a atuação do governo municipal de Blumenau ficou insustentável: não há mais clima para a permanência da atual presidente da fundação.


Além disso, o governo municipal, em 2009[4], diminui sensivelmente o número de trabalhadores internos da Fundação, especialmente os comissionados. Nada mesmo que 11 pessoas deixaram de exercer funções de gestão. Num país como o Brasil, em que comissionado é moeda de troca, poderia ser uma boa notícia. Mas sem comissionados e basicamente sem funcionários de carreira, a estrutura praticamente parou diante da demanda, sem dar conta do recado. 

Romper com a idéia da monocultura “teuto-brasileira” sem negá-la, juntamente com uma política cultural baseada no pressuposto da “cidadania cultural”, é apostar na abertura simbólica de Blumenau para a diversidade de suas expressões, acionando um extenso campo de possibilidades concretas para seu futuro, através do tripé “sustentabilidade-criatividade-cidadania”.


Referências Bibliográficas

CANCLINI, Nestor Garcia. Definiciones en transición. En libro: Cultura, política y sociedad Perspectivas latinoamericanas. Daniel Mato. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina. 2005. pp. 69-81.
Acceso al texto completo:
http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/grupos/mato/GarciaCanclini.rtf

FERREIRA, Cristina. Identidade e cidadania na comunidade Teuto-brasileira no Vale do Itajaí. In: FERREIRA, Cristina. FROTSCHER. Méri (org.). Visões do Vale: perspectivas historiograficas recentes. Blumenau: Nova Letra, 2000, p.71-90.

FLORES, Maria Bernadete Ramos; WOLFF, Cristina Scheibe. Oktoberfest: turismo, festa e cultura na estação do chopp. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1997. 188p, il.

FROTSCHER, Identidades móveis: práticas e discursos das elites de Blumenau (1929-1950) /Méri Frotscher. -Blumenau: Edifurb : 2007,  240 p


HAESBAERT, Rogério. O Mito da Desterritorialização: do ‘fim dos territórios à multiterritorialidade. 2ª edição. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil. 2006.

SAYFERTH, Giralda. Nacionalismo e identidade étnica: a ideologia germanista e o grupo étnico teuto-brasileiro numa comunidade do Vale do Itajaí. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura, 1981, 240p.


[1] Para a Organização das Nações Unidas, Política Cultural diz respeito àquelas políticas relacionadas com a cultura, seja em nível local, regional, nacional e internacional, que são, ou focadas na cultura como tal, ou designadas para ter um efeito direto em manifestações culturais de indivíduos, comunidades e sociedades, incluindo a criação, produção, disseminação, distribuição e acesso as atividades, bens e serviços culturais. Para o MICHEL DE CERTEAU“a política cultural lida com o campo de possibilidades estratégicas; ela específica objetivos mediante a análise das situações e insere alguns lugares cujos critérios sejam definíveis, onde intervenções possam efetivamente corrigir ou modificar os processo em curso (1995, p.193)”. Para CANCLINI Los estudios recientes tienden a incluir bajo este concepto al conjunto de intervenciones realizadas por el estado, las instituciones civiles y los grupos comunitarios organizados a fin de orientar el desarrollo simbólico, satisfacer las necesidades culturales de la población y obtener consenso para un tipo de orden o transformación social. Pero esta manera de caracterizar el ámbito de las políticas culturales necesita ser ampliada teniendo en cuenta el carácter transnacional de los procesos simbólicos y materiales en la actualidad ( 2005, p.78). Para BARBALHO, programa de intervenções realizadas pelo Estado, entidades privadas ou grupos comunitários com o objetivo de satisfazer as necessidades culturais da população e promover o desenvolvimento de suas representações simbólicas”(2005, p.37).
[2] Primeira geração de nascidos pós imigração alemão para a região
[3] Como o homem civilizado capaz de transformar a floresta em cidade pelo seu espírito “empreendedor”.
[4] A Lei Complementar N° 704, de 29 de janeiro de 2009, altera a estrutura organização da Fundação Cultural de Blumenau estabelecida na Lei complementar N° 400, de 06 de maio de 2003

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Fala, Kleinübing!

Maicon Tenfen - Jornal de Santa Catarina

Dizem que os ratos são os primeiros a abandonar um navio que está afundando. No caso da Fundação Cultural de Blumenau – espaço da famigerada “cultura Titanic” – é o contrário que está acontecendo. Já há algum tempo, muita gente boa vem saltando de um barco que, esquecido e mal comandado, segue na direção do naufrágio.

Para não me estender demais, já que a lista é grande, cito apenas o colega Gervásio Luz, ex-presidente do Conselho Editorial da Editora Cultura em Movimento (que não publica mais livros); Aline Assumpção, ex-membro do Conselho Municipal de Cultura (processada pela presidenta Marlene Schlindwein); Charles Steuck, ex-presidente do Conselho do Museu de Arte de Blumenau (que, segundo carta de renúncia, cansou de fazer o “papel de capivara”); e Daiana Schvartz, que renunciou ontem, também ex-membro do Conselho do MAB.

Conforme já escrevi outro dia, falta tudo na Fundação Cultural, e olhe que não estou falando somente de dinheiro, algo que sempre faltou para a cultura, mas principalmente de competência e boa vontade. Como se isso fosse pouco, o Ministério Público acaba de confirmar que vai instaurar um inquérito para investigar possíveis irregularidades envolvendo funcionários do extinto Casarão das Oficinas (outra perda da atual gestão).

Ontem, no Santa, logo abaixo da palavra CULTURA, fomos obrigados a ler um título que trouxe vergonha para toda a comunidade: SOB O OLHAR DA LEI. Enquanto isso, na sala de justiça, João Paulo Kleinübing e Rufinus Seibt, responsáveis diretos pela indicação da presidenta Marlene Schlindwein e de tudo que está acontecendo, refugiam-se num silêncio típico dos irresponsáveis. Eu francamente gostaria de saber o que está acontecendo com a administração pública de Blumenau, uma cidade que costuma se gabar de seu povo culto e politizado.

É que a questão não é apenas política, mas sobretudo administrativa. Ou o Executivo toma uma atitude sobre o atual estado das coisas, ou a Fundação encontrará o seu destino no fundo do oceano. Por que o prefeito ou o vice não se manifestam sobre a questão? Por que manter a pobre Marlene como escudo, recebendo as pedradas endereçadas a um problema maior que a incompetência individual de um gestor, a saber, A AUSÊNCIA DE POLÍTICAS CULTURAIS SÉRIAS NO MUNICÍPIO? Não apenas a classe artística, mas toda a comunidade espera uma posição da prefeitura.

Do jeito que as coisas vão, daqui a pouco não haverá nem ratos para abandonar o navio.

Marlene e Neusa:

Diante de tudo o que estamos passando e vendo em âmbito cultural de nossa cidade, especialmente dentro de nossa querida Fundação Cultural, a qual estive muito mais tempo do que vocês, prefiro sim e me dou o direito de deixar de lado as pompas de um palavreado recheado de formalidades e lhes tratar diretamente pelos nomes como qualquer mortal.

Presidente, Diretora, Senhora, Excelentíssima ou Ilustríssima... Pouco importa. Isso não mudará coisa alguma, não é mesmo?

Como artista visual (adormecida), professora de arte, fomentadora da arte e em nome de muitos dos colegas da área, dou-me o direito de lhes dizer livre e democraticamente o que penso sobre “alguns papéis” do cenário deste desconcertante palco que é a Fundação Cultural de Blumenau, onde vemos apenas “comédias mexicanas”. Piada atrás de piada que só prejudica, envergonha e decepciona a classe artística.

Penso que Aline, Charles e Daiana foram e são muito educados e pacienciosos em seus comentários e protestos. Até os entendo. Afinal de contas isso combina com a cidade de Blumenau que insiste em usar o rótulo de “conservadora”. São eles que levantam bandeiras com conhecimento de causa, lutam de cabeça erguida em nome da Cultura, dão suas “caras a tapa” com muita classe e categoria. Sei também que tudo tem seu “jeitinho especial de ser dito” para não ser mal educado ou grosseiro. Mas, a verdade é que tudo tem limite e como não sou de meias palavras (e rotulada por isso), não tenho coisa alguma a perder e possuo “meu jeitinho especial” de dizer as coisas, deixo aqui algumas perguntas, baseadas e inspiradas nas cartas de meus colegas Charles e Daiana:

Será que desta vez vcs não vão acordar para as “cagadas” que estão fazendo? Repensem. Coloquem as mãos na consciência e acordem. Não foi vc mesma Marlene que assumiu publicamente que seu cargo é puramente político e que relacionado a Cultura, pouco sabes? Eu no lugar de vcs já teria caído fora há horas, dias e meses... Que vergonha! Vcs possuem “amor próprio”? Sabem o que é isso? Precisam passar por todas essas humilhações que vemos quase todos os dias nos jornais? Conseguem circular nas ruas de Blumenau? Eu não conseguiria...

Será que nós professores, artistas, fomentadores ou qquer outro “guerreiro da arte” somos obrigados a conviver com tudo isso que estamos passando com a Cultura de Blu?

Penso que o próprio Conselho Municipal de Cultura, EM PROTESTO, deveria “debandar” em peso. Quem sabe assim nosso Prefeito abre os olhos. Quando resolvi sair do Conselho, para não ser antipática aos colegas conselheiros, aleguei ter saído por assuntos particulares. Arrependo-me por não ter assumido abertamente que meu desgosto, desprazer e decepção estavam 80% vinculados a atual gestão e administração da F.C.B.

É muito triste ver nossa amiga Aline passando pela situação que estamos acompanhando, Charles abandonando seu posto cultural, bem como Daiana. É muito triste ficarmos desamparados dessas jovens competências, por conta de “figuras inaptas que não largam o osso”, preferindo vexame atrás de vexame e conseguindo deitar suas “férteis cabeças” em confortáveis travesseiros e dormir “o sono dos justos”. Estou revoltada e por isso, declaro LUTO em nome dos colegas Aline, Charles e Daiana... E a todos os que já desistiram de lutar em prol da Cultura como eu.

Será que vão me processar também?

Passar bem.

Rosana Dominguez

Artista, Pintora, Assessora de Criação,

Consultora Estético/Artística,

Pesquisadora e Arte Educadora.

Sobre resposta publicada no SANTA


Amigos, leiam, na íntegra, resposta ao artigo "Ó Supremo", editada e reduzida pelo Jornal de Santa Catarina (http://www.clicrbs.com.br/jsc/sc/impressa/4,185,3372359,17433) de hoje - 01/07/2011:
Ó, intolerância!
Sobre o artigo publicado “Ó supremo!”, tenho a dizer que o argumento de que o reconhecimento da união homoafetiva irá gerar bullying e ataque nas escolas é no mínimo primário e raso. Exatamente por isso entendo extremamente importante a distribuição do kit anti-homofobia nas escolas, de forma a evitar que crianças oito aninhos sofram bullying porque são diferentes, pois se vive num mundo de adultos intolerantes e preconceituosos.
E sobre a interpretação da Constituição feita pelo autor/advogado, é importante citar duas frases dos Ministros do STF, que dão uma importante aula de direito, ao proferirem o voto a favor da união homoafetiva: “Que não se separe por um parágrafo, o que a vida uniu pelo afeto.” (Min. Ayres Britto). “Uma sociedade decente é uma sociedade que não humilha seus integrantes. O tribunal lhes restitui o respeito que merecem, reconhece seus direitos, restaura sua dignidade, afirma sua identidade e restaura sua liberdade”. (Min. Ellen Gracie).
Propagar a exclusão usando de temas tão diferentes e complexos – como o bullying, ataques às escolas e legalização da maconha – apenas reforça a intolerância e o preconceito ao diferente e tornará a sociedade ainda mais violenta. O que precisamos são de atitudes democráticas e maduras, tais como as do Supremo Tribunal Federal.
Sally Rejane Satler – Advogada