segunda-feira, 20 de junho de 2011

Testemunho do ator Cleiton Rocha


Por Cleiton Rocha

Lembro da minha pequena frigideira. E aquela colher que amassava o fundo da pobre panelinha. Enfim, eu tinha feito barulho. Não eu, propriamente, nem todo mundo. Mas estávamos lá sem poder esperar mais deles. E esperávamos muito. Tanto que até a fundação estava a despencar, não está mais, já demoliram. Só nos restaram as goteiras do Carlos Jardim, mas lá, lá é o recinto da ordem. A ordem foi inventada antes ou depois das panelas? De qualquer jeito, naquele dia, depois das panelas a ordem assumiu sua identidade. Fomos todos nos reunir como bons cidadãos contentes em exercer suas virtudes cívicas, dialogar na construção de uma cultura coletiva no espaço de atuação política da arte que transcende fronteiras e pode até dizer sobre a vida real às vezes! Falamos, falamos muito, gritamos também, lembro. Até rimos inclusive. Tudo bem, muitos choravam. Mas ninguém mentiu, não conseguiam. Nem nós, ricos cidadãos! Nem eles, esfarrapados do Estado. Afinal, havia abandono, e havia panelas. Até as panelas foram acusadas de desordem. Não havia ordem, mas havia honestidade. Ainda bem que somos honestos, ainda bem que não somos panelas.
Testemunho que as colheres foram as culpadas, eu as vi batendo nas panelas, as panelas ficaram furiosas e acusaram a Fundação Cultural de negligência, os donos das panelas as silenciaram e resolveram conversar, mas a ordem deve ter ficado surda, e achou um desacato da panela reclamar da colher que bate. Ou não foi assim, mas não foi o nada.

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