sábado, 18 de junho de 2011

Eu desacato!

"Pensa na escuridão e no grande frio
Que reinam nesse vale, onde soam lamentos."
Brecht, Ópera dos três vinténs

Naquele dia eu não pude estar fisicamente presente na manifestação e na reunião que se seguiu. Mas de outra forma, eu estava lá, assim como tantos outros, pois nos sentíamos representados pelas pessoas que estavam, sobretudo pelos conselheiros eleitos na ultima conferência de cultura. Naquele dia a voz da Aline e do Márcio era a nossa voz. Por isso, quando a presidente da Fundação acusa um deles de desacato é a todos que ela está acusando.

Eis mais um intolerável fato que não podemos tolerar. Se tornamos natural atitudes autoritárias como esta, estaremos abrindo mão de direitos fundamentais para o exercício da liberdade. Até agora pisaram nas nossas flores e mataram nossos cães. Mas, se nos calarmos, amanhã virão para cortar nossa garganta e aí definitivamente estaremos silenciados.

Marlene e aqueles que trabalham contra as potencialidades do tempo presente, nos desacatam diariamente, quando deixam morrer por falta de água e oxigênio o broto do futuro. É por este broto que morre todos os dias que não podemos nos calar. Por isso, hoje não resta outra saída senão, fazermos do desacato um instrumento permanente contra todos os monumentos de cultura que foram reduzidos a monumentos de barbárie. Só assim não esquecerão o significado da palavra desacato. Daqui em diante, conjugaremos o verbo desacatar em todos os tempos verbais, com todos os seus pronomes – no singular, mas, sobretudo, no plural.

Por Ricardo Machado, historiador.

Um comentário:

Rá rá rá! disse...

Eu também não estava lá...mas assino embaixo!