quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Teresa

TERESA
Viegas Fernandes da Costa

Teresa baixou os olhos, mirou seus seios.
“São meus!” – exclamou.
Desceu as mãos. Perdeu-se.
“Meu deus!”
Teresa desceu a saia, o pudor. Desceu os pêlos, a pele. Desceu tudo seu. Desceu as escadas à rua. Desceu à praia, ao mar.
“Sou eu!”
Desceu tanto, entretanto, que desceram todos, os outros, à rua, à praia. Desceram palavras como pedras, desceram rebentos à carne. Disseram-na feia, disseram-na velha, disseram-na vulgar.
Teresa não disse nada!
Lavou os cabelos, longos e negros. Lavou-se toda, por fora, por dentro. Lavou-se inteira, Teresa.
“É Teresa!” – explicavam. Sempre há quem chega tarde.
“Sou eu!”
Lavou-se ao avesso, estendeu-se em nudez. Esparramou-se um seio, outro também. Toda flacidez, as coxas luziam, os braços, o ventre.
Teresa sorria!
“Meu deus!”
Já plena e lavada, Teresa subiu à praia, à rua, às escadas, ao povo reunido que a cercou:
“Então?” – perguntou.
Não houve pedras, não houve palavras. Não houve nada!


Desde então todos sabem: Teresa é mulher, e toda manhã cruza a cidade ao mar, nua, toda ela, pêlos, pele e prazer. Toma seu banho, estende seu corpo, e volta para casa.
Teresa é mulher invejada!

3 comentários:

Ali Assumpção disse...

sabes q amo este texto, né?

acrescentando: a quem não sabe, este é o tal publicado na cult.
http://umescambau.blogspot.com/2009/02/blog-post_23.html

parabéns viegas, isto é apenas um merecido reconhecimento do teu trabalho!

Anônimo disse...

Liberdade! Para as mulheres, para o mundo, o que resta é esse sonho bem descrito. Detalhes de uma nova forma de amar a si mesmo. Adorei!
Parabéns pela publicação em revista nacional!

Anônimo disse...

Muito bom. Liberdade, isso mesmo