terça-feira, 6 de abril de 2010

Um Salão vazio

FALTA DE DIVULGAÇÃO E DE INFORMAÇÃO ESTÃO ENTRE AS EXPLICAÇÕES PARA A ESCASSEZ DE PÚBLICO NO SALÃO ELKE HERING
O relógio de pulso marca 9h22min. Na Rua XV de Novembro, o dia já começou há muito tempo. As pessoas passam com pressa, a pé ou de carro. Mas dentro da Fundação Cultural, as quatro salas do Museu de Arte de Blumenau permanecem fechadas. A obra vencedora do Salão Elke Hering, uma videoarte, está desligada. Alguém esqueceu de abrir o espaço, que de acordo com o expediente inicialmente divulgado deveria estar funcionando desde 8h.

Durante quatro dias, a equipe do Santa esteve no Museu de Arte de Blumenau para conferir o movimento no Salão Elke Hering. Foram seis visitas em diferentes horários. Em nenhuma delas, a reportagem encontrou público externo circulando pelo espaço. A única pessoa presente dentro das salas era da equipe da limpeza, que encerava o chão. A obra vencedora, uma videoarte de Charles Steuck e Aline Assumpção, esteve desligada ou em modo de espera em três dos quatro dias em que a equipe visitou o local. O baixo movimento da exposição é confirmado pelas assinaturas nos cadernos de presença. Na Sala Oficial, o livro tinha um total de 76 rubricas, apenas 29 delas feitas após a cerimônia de abertura, há 11 dias.

Para a artista Aline Assumpção, que teve duas obras aprovadas no Salão Elke Hering, a baixa visitação é resultado da cultura blumenauense, que não inclui visitar espaços artísticos, mas também da “falta de credibilidade pela qual passa a Fundação Cultural e o MAB”. Pessoas que costumavam participar de exposições e das oficinas de arte e da Escolinha Monteiro Lobato não frequentam mais o espaço pela redução de atividades oferecidas no local.

– Hoje quem frequenta a Fundação são os funcionários. Não se pode fazer um evento isolado e querer que ele seja um sucesso – avalia.

Com relação a sua obra, Aline compara que uma videoarte desligada é o mesmo que um quadro guardado no armário, resultado de uma equipe despreparada.

A artista visual Daiana Schvartz, também com uma obra selecionada no espaço, considera que o aumento do público pode ocorrer por meio de parcerias com escolas. Outra forma de otimizar a passagem do público pela espaço seria contar com monitorias, ou seja, pessoas qualificadas capazes de instigar a participação e a percepção das pessoas junto às obras.

– Os artistas também poderiam conversar com os visitantes e as escolas. Em geral, há uma distância entre o artista e o público – comenta Daiana.

Monitorias

De acordo com o gerente do MAB, Carlyle De Jesus Aguiar da Costa Junior, esta semana começaram as monitorias com escolas no Salão Elke Hering. Ontem, eles receberiam uma turma de 40 alunos e é nessa parceria que a gerência tem investido. Segundo ele, há três monitores à disposição de grupos de visitas e o acompanhamento pode ser feito por meio de agendamento.

Com relação à videoarte desligada, Carlyle cogita a possibilidade de haver algum problema técnico no equipamento. Segundo ele, os funcionários estão orientados a manter a obra em exibição durante todo o dia. Quanto ao horário, os estagiários estão orientados a abrir as portas às 8h45min.

wania@santa.com.br
WANIA BITTENCOURT E VINICIUS BATISTA


Blumenauenses desconhecem a exposição
De 17 pessoas entrevistadas na Rua XV de Novembro e na Furb pela equipe do Santa, apenas cinco já tinham ouvido falar do Salão Elke Hering, existente há 16 anos em Blumenau. Nenhuma delas havia visitado a mostra. O educador social Mário Stribel, 48 anos, reconheceu o nome de Elke Hering, mas não sabia do que se tratava o salão. A funcionária pública Jussara Jesus dos Santos, de 47 anos, ficou sabendo através do jornal, mas não encontrou tempo para fazer uma visita.

– O horário é meio complicado durante a semana – afirmou.

Entre as pessoas que não conheciam a exposição contemporânea, a maioria não se recorda de ter visto material de divulgação. Cartazes e panfletos da exposição não aparecem em pontos de grande circulação de pessoas na cidade. No Teatro Carlos Gomes, Prefeitura Municipal, Rodoviária e Furb não haviam cartazes ou panfletos. Na região central da cidade, a única indicação da mostra era um outdoor no início da Rua XV de Novembro. Na própria Fundação Cultural, o cartaz da exposição divide a atenção com outros eventos da cidade.

Segundo o gerente do MAB, Carlyle De Jesus Aguiar da Costa Junior, a instituição passa por problemas financeiros. A verba ideal para desenvolver um trabalho completo girava em torno de R$ 140 mil, mas o governo do Estado aprovou apenas R$ 80 mil, sendo que 80% desse valor foi utilizado para o pagamento dos premiados.

– Tivemos que fazer mágica para fazer o trabalho de divulgação – afirmou o gerente do museu.

Mais da metade das pessoas que responderam não ter ouvido falar sobre o Salão Elke Hering demonstraram interesse em visitar o MAB após a reportagem do Santa explicar do que se tratava.


OPINIÃO DO SANTA

A arte escondida
Reportagem do caderno Lazer, nesta edição, traz à tona mais uma evidência da forma descuidada como a arte tem sido tratada em Blumenau. Depois de lamentar o adiamento e, meses depois, obter os recursos para o financiamento do Salão Elke Hering, parece paradoxal que os R$ 80 mil investidos na mostra tenham reflexo praticamente nulo para a sociedade. No livro de visitas, há escassas 76 assinaturas. Se é fato que há um desinteresse generalizado por arte contemporânea, por outro há de se reconhecer o papel da Fundação Cultural de Blumenau no fracasso de público. Quando os horários de visitação prometidos não são cumpridos, e alguns obras permanecem inacessíveis, é sinal de que a organização está pecando na parte que lhe cabe.
* Texto tirado do Jornal de Santa Catarina do dia 06/04/2010.

Um comentário:

fabricio disse...

a realidade é uma tristeza:(