De hoje ao próximo domingo acontece em Brasília a 2ª Conferência Nacional de Cultura, que reunirá delegados de mais de 2,5 mil municípios, mobilizados ao longo de 2009. Foram chamados ao debate artistas, produtores culturais, mestres populares e gestores públicos, a partir de cinco eixos que pensam a cultura em seus aspectos simbólicos, econômicos e de cidadania.Tudo com muita vontade de transformar o atual cenário de concentração dos bens, serviços e equipamentos culturais.
Impossível pensar o Brasil como um país moderno e encontrar salas de cinema em apenas 9% dos municípios, por exemplo. O consumo e a fruição cultural precisam ser entendidos como direito fundamental de todos, em todas as esferas públicas.
O Brasil é um país biodeverso. Precisa reorientar sua ideia de futuro, alinhando sistemicamente arte, cultura, educação e ecologia. Disso resultará um país criativo e aberto à resolução de seus conflitos, como a violência, a má distribuição de renda, a reforma agrária e a concentração midiática nas mãos de poucas famílias.
Para a 2ª Conferência Nacional de Cultura, os seus desafios passam por questões como financiamento e fomento da produção artística e das manifestações populares. Tem que indicar caminhos para o desenvolvimento da economia criativa de Norte a Sul, desconcentrando os serviços e a oferta cultural. A arte e cultura têm o potencial de humanizar nossas cidades de cimento e automóveis, invertendo essa prioridade esquizofrênica que deixa em segundo plano as pessoas e a qualidade de vida.Não dá para imaginar a arte e a cultura apenas do ponto de vista do desenvolvimento. Antes e, acima de tudo, cultura é muito maior e não permite gerenciamento como se fosse um recurso como o alumínio, por exemplo. Ela escapa às nossas mãos e seria arbitrário enquadrá-la numa dimensão econômica, como vem sendo o discurso predominante do momento, resultado de um modelo de financiamento neoliberal, baseado na renúncia fiscal.É importante a valorização das culturas populares, das manifestações regionais, dos mestres da oralidade e do artesanato, por exemplo, todo esse arcabouço simbólico que nos compõe como sujeito e coletivo, pertencente à dinâmica da história.
Por fim, é importante ressaltar que essas duas dimensões, simbólica e econômica, podem dialogar nos municípios, caso tenha-se uma gestão cultural moderna, com equipamentos culturais e diálogo com todos os segmentos da sociedade. Os prefeitos precisam indicar pessoas capacitadas para uma gestão baseada em políticas culturais, precisam investir em programação, equipamentos e bens culturais; e tomar a existência dos Fundos Municipais de Cultura como prioridade. Neste último caso, Blumenau ainda tem muito a avançar.
MÁRCIO JOSÉ CUBIAKCientista social e delegado na II CONFERÊNCIA NACIONAL DE CULTURA
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