Artigo publicado no SANTA no dia 18/03/2010 por ANAMARIA KOVÁCS
É mais ou menos assim que se manifesta muita gente quando ouve essa palavrinha; alguns até fazem um gesto depreciativo com a mão, acompanhado de um sorrisinho. Felizmente, não são todos que pensam assim. Aliás, a palavra “cultura” é tão abrangente que gera polêmica até sobre a sua definição. Como essa é uma questão muito cabeluda, não vou entrar nela aqui, que não sou boba...
Refiro-me ao tratamento que a pobrezinha da cultura, e suas manifestações concretas, vêm recebendo em Blumenau. Houve tempo em que ela era mais prestigiada: encenavam-se peças de teatro, orquestras apresentavam-se no Carlos Gomes, artistas de prestígio nacional vinham tocar aqui; e não era só a “elite” que usufruía da cultura, porque ela abrange tudo que um povo, ou uma etnia, ou uma tribo, produz, como mitos, danças, artes plásticas, artesanato, música e um enorme et cetera.
E o que acontece quando a cultura é subordinada à política? Acontece o que estamos presenciando em nossa cidade: ela é desprezada em favor de interesses, utilizada para beneficiar apadrinhados, ignorada quando serve apenas para melhorar a qualidade de vida do povo, mas não dá prestígio aos poderosos da vez. A classe artística, por seu lado, faz o que pode: bota a boca no trombone, esperneia, manifesta-se – mas é pouco respeitada. Pudera, na cabeça de muitos, artista é sinônimo de sonhador, preguiçoso, maluco, marginal. Claro que não é assim, mas esse preconceito impede que a classe seja vista com seriedade, e que a cultura por ela representada seja considerada algo útil à sociedade.
Quando privado de cultura, o cidadão inicia uma busca, meio instintiva; acaba assistindo a baboseiras na televisão. Desacostumado a ler, nem entra em livrarias, ou, quando procura um livro, leva um best-seller qualquer. Se vai ao cinema, acontece o mesmo: sem espírito crítico, qualquer película serve. Diante de uma obra de arte, cala-se, porque é impossível compreendê-la. Sem vivência cultural, o cidadão transforma-se numa pessoa sem opinião, facilmente manipulável. E este é o tipo preferido de todo candidato em ano de eleição: o maria-vai-com-as-outras, o ingênuo que crê em promessas mirabolantes.
Frequentei o Casarão das Oficinas, como aluna do curso de Desenho, durante dois anos; o estado do prédio é lamentável, por falta de conservação; o desprezo pela cultura manifestava-se nas salas precárias, nas mesas desmanteladas, na sujeira, nas paredes carentes de pintura, no sofá encardido da entrada. Os professores lutavam para conseguir, ao menos, cadeiras em número suficiente para todos os alunos, e, no caso da minha turma, o espaço nas mesas desconjuntadas era tão pequeno que acabávamos nos estorvando uns aos outros. Agora, nem isso temos mais.
ANAMARIA KOVÁCS
Um comentário:
que bom contarmos com mais um voz! falando, berrando, de um lado e de outro, que saben o prefeito hora dessas resolva nos escutar... (ou não:S )
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