Sobre violinos e invernos (2)
Viegas Fernandes da Costa
Há muitas maneiras de se atribuir sucesso a um evento, e o Nosso Inverno, ocorrido no último final de semana, foi um evento bem sucedido, não tanto pelo público que congregou (e que lotou o Teatro Carlos Gomes, inclusive durante as atrações que vararam a madrugada), mas principalmente pelo seu caráter de protesto contra o descaso do poder público ante as manifestações artístico-culturais e pela ausência do Festival Internacional Universitário de Teatro.
Se por um lado houve pouca novidade artística no evento, considerando que a maior parte das apresentações já foi apresentada à comunidade em outras oportunidades, por outro, quem esteve presente ao evento percebeu que, definitivamente, não se ouviu violinos e, se há um Titanic na Fundação Cultural de Blumenau, a maior parte dos artistas de Blumenau (ao menos aqueles que honram sua arte e sua profissão) não deseja embarcar nele. Afinal, a arte é não só uma manifestação estética, mas fundamentalmente ética.
Se houve um certo desconforto dos organizadores em assumir este caráter de protesto do Nosso Inverno – expresso em matéria do Santa do dia 28 de julho –, a crítica ficou clara e escancarada durante o evento, e veio dos próprios artistas. Já na noite de sábado, os grupos de teatro de Blumenau, ineditamente reunidos em um mesmo espetáculo, invadiram o grande auditório do Carlos Gomes para apresentar uma peça-manifesto, contundente crítica e tocante apelo aos administradores públicos, empresários e sociedade em geral, denunciando o homicídio cultural perpetrado em nossa cidade.
Tom que pautou boa parte das apresentações culturais, fomentou a realização de um abaixo-assinado e que se consolidou na tarde de domingo, momento em que os grupos de teatro promoveram uma mesa-redonda para discutir políticas culturais e que contou com a ausência da presidente da Fundação Cultural, Marlene Schlindwein, e do prefeito João Paulo Kleinübing. Ausências que nos dão a dimensão do descaso para com os artistas e a arte produzida a partir de Blumenau.
Por outro lado, ainda permanece latente a necessidade de organização e diálogo dos artistas entre si para que este Nosso Inverno supere a condição de evento e se transforme, definitivamente, no movimento que pressione por uma política cultural municipal, que já tarda.
Publicado no Jornal de Santa Catarina, 05/08/09:
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