quinta-feira, 9 de abril de 2009

Con-fusão

A rua inteira tomada.

Não era feriado, muito menos festa nacional. Caras indiginadas e palavrões eram os grandes clichês presentes a cena. Um sem número de pessoas, em trajes de sono e cama, perdiam a paciência. Sorte ser uma cenário asfaltado, pois se algum integrante daquela turba perecebesse uma pedra, um paralelopípedo que fosse, o caos traria abaixo os edifícios.

Ninguém ali percebia os demais.

A reclamação de um era sempre tão maior que a de outro que somente suas próprias vozes eram ouvidas. Não havia mais ninguém, apesar da multidão. Pois sim, apesar, também, da avançada hora noturna, já madrugada alta (ou baixa), aquilo havia trazido todos a praça. Na confusão, alguém cai ao chão.

Nos empurrões, alguém vai ao chão.

Aquilo paralisou a todos. Pois sim, apesar de uma turba, ninguém era assim, tão sem humanidade. Aliás, as almas da turba eram coloridas, vista de longe e de perto. A queda fez um perceber o outro que percebeu mais um, cinco, quarenta e nove, oitenta e sete…

A luz das almas era colorida.

E eram tantas cores que não houveram mais barulhos e vozes nervosas. Eu estava tão interessado nos tons de verde; a pessoa ao lado tecia comentários sobre misturas e trocamos frases inteiras. Um outro barulho começava a percorrer a praça. Alguns até se sentaram nos bancos. Cigarros foram acendidos e meu Deus, alguém saiu correndo buscar um violão.

Mas todos estavam com roupas de sono e de cama.

De repente, cuecas, calcinhas, samba-canção, fetiches desfilavam em festa. A louca da minha amiga já havia colhido um buquê de flores nos canteiros e começava a distrubuir entre os presentes. Um moço se atreveu e beijou-a. Assim ela iniciou um ciclo de beijos, e todos se beijavam. A homo e hétero bissexualidade foi mandava as favas e não importava quem fosse, beijos eram selados.

E o beijo leva adiante.





De dentro do prédio, um tiro.

E aquela cena era tão linda que a noite aplaudiu lá de longe, do céu, com uma chuva fresca e calma. Aqueles corpos colados, agora molhados. Foi então que ouviu-se o barulho: de dentro do prédio da Fundação, um tiro. A direção não aguentou tamanha fusão.

No dia seguinte, uma comuna havia nascido naquelas instalações.

Um comentário:

costadessouza disse...

Nossa, que bela narração! Parabéns!
Com elementos tão nossos ( e outros nem tanto...)!