quarta-feira, 12 de novembro de 2008






O POETA E OS GIRASSÓIS

(Ao poeta Lindolf Bell – 1938-1998)

Tânia Rodrigues

O corpo do poeta dorme
na Timbó de campos semeados
(os girassóis altivos
ainda buscam a luz do sol)

O canto do poeta ecoa
no vale do Xockleng oprimido
(os girassóis altivos ainda
inspiram versos de esperança)

O amor do poeta grita
às margens do Itajaí-Açu
que pede passagem
(os girassóis altivos ainda
teimam em florescer no
coração das cidades concretas)

O sonho do poeta sustenta
sobre a terra úmida, aquecida e imensa
o sonho de vários homens
vários pássaros
vários peixes
(os girassóis altivos
renascem na dor absoluta)

O riso do poeta se espalha
feito semente nas colinas
e tocadores de bandoneons celebram
o brilho das manhãs ensolaradas
(os girassóis altivos não vivem
de beleza, mas têm dignidade)

O destino do poeta, vago feito
querubim, seduz a mãe que embala
o filho, sabedora de horizontes
(os girassóis altivos ainda se
curvam, mas apenas para o céu)

Um comentário:

viegas disse...

"Que importa que morra o poeta? Importa que não morra o poema", sentenciou Cruz e Sousa antes de morrer. Preocupa-me o culto ao poeta, neste caso, e o esquecimento da poesia que pariu. Teu poema está lindo, Tânia, tocante, próprio de quem foi tocada pela poesia de Lindolf Bell, mas há de se ler e viver a poesia que legou para nós.
Abraço fraterno,
Viegas
PS.: Rafaela, quando reeditarás a obra do teu pai?