o Luís Nassif publicou, em seu blog, um interessante texto sobre o mercado audiovisual no Brasil. Talvez, poderíamos dar alguns "pitacos" sobre a produção local e catarina.
O desafio do audiovisual brasileiro
Coluna Econômica – 25/01/2009
Há um conjunto de obstáculos ponderáveis para a criação de uma indústria brasileira de audiovisual. A rigor, deve-se avançar em duas frentes: a do fomento e a da distribuição.
Coordenador Geral de Políticas Audiovisuais do Ministério da Cultura, James Görgen considera que a primeira parte da equação – o fomento – está razoavelmente equacionado.
Hoje em dia, no financiamento a fundo perdido o Ministério da Cultura tem uma área de fome, com editais lançados periodicamente para financiamento de pequenas produções a fundo perdido. No momento, existem 11 editais abertos em várias áreas, para animação, curtas e longas metragens de baixo orçamento. Existe também a Lei Rouanet de incentivo à cultura.
Na área de TV, o programa Doc Tv – de estímulo a documentários de iniciantes – também gerou boa quantidade de programas. O MinC criou o Programa Olhar Brasil, visando criar núcleos de produção digital nas cidades. Entregam equipamentos para conselhos gestores, que providenciam professores. O programa está em 12 estados, mas ainda timidamente devido aos custos envolvidos.
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No caso do mercado mais profissional, a ferramenta de atuação é a Ancine (Agência Nacional de Cinema) que dispõe da Lei do Audiovisual e o Funcine – fundo que permite atrair capitais de risco para empreendimentos.
Até agora, os investimentos têm se concentrado em projetos individuais, em filmes, onde a percepção de risco é mais nítida. Mesmo assim, os planos de negócios desses filmes não tem controle sobre uma variável fundamental: o tempo de permanência nos cinemas.
E aí se entra no outro ponto da questão, que é a distribuição.
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O problema é a distribuição.
Hoje em dia, praticamente toda produção brasileira – com exceção de filmes amparados por estruturas de distribuição internacionais ou redes de TV aberta – está nas prateleiras. A única porta e exibição é a TV pública, TV Brasil, Fundação Padre Anchieta e rede estadual.
Sem a perna da TV aberta, o modelo de negócio torna-se complicado.
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O mercado audiovisual trabalha sobre quatro janelas de faturamento: cinema, TV aberta, Internet e dispositivos móveis.
No caso da TV aberta, as redes foram montadas em cima de uma lógica perversa para a produção nacional. A maior parte do conteúdo é produzida na cabeça de rede ou na compra de pacotes de filmes e séries do exterior, que já amortizados dos países de origem. Apenas 15% das afiliadas têm alguma produção própria.
Embora a TV aberta pague valores irrisórios pelos filmes nacionais exibidos, a visibilidade é essencial para viabilizar as outras três janelas. O caminho natural seria a introdução de cotas tanto para filmes nacionais quanto para produção de afiliadas.
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Sem visibilidade, torna-se difícil penetrar nos esquemas de distribuição de cinemas.
Hoje em dia, 95% dos municípios não têm cinemas. Nos demais, os cinemas estão acompanhando a especulação imobiliária e se concentrando nos shoppings.
As redes de cinemas – 1
No caso dos cinemas, uma alternativa seriam as cotas, mas encontra resistências. Então terá que se consolidar a boa qualidade. Difícil furar bloqueio das internacionais porque não o tem a brasileira. E as internacionais também usam o esquema de venda de pacotes para ocupar os espaços. Mesmo redes e distribuidores nacionais se associaram às internacionais, impondo pacotes. Além das redes próprias internacionais.
As redes de cinemas – 2
Existem redes nacionais de médio e grande porte. Mas a falta de histórico de produção impediu o aparecimento de grandes distribuidores. Há programas visando permitir que prefeituras e organizações sociais tenham suas salas de exibição. Mas valem apenas para a produção alternativa, não para o filme comercial. O projeto Programadora Brasil disponibiliza para essa rede 500 títulos a preços módicos.
Os produtores – 1
Um dos grandes desafios será superar o chamado filme de autor – aquele no qual o diretor define o que quer filmar. Na China e na Índia, a produção se viabilizou com as encomendas, diretores e produtores acertando com os compradores o formato do produto. Mas ainda há muita resistência, devido aos vícios dos tempos em que todo o cinema era bancado com recursos não reembolsáveis.
Os produtores – 2
Um caminho promissor tem sido o da co-produção com canais a cabo – especialmente os estrangeiros. Mas apenas diretores provenientes do mercado publicitário têm tido jogo de cintura para fazer o filme sob demanda. Na área da animação as parcerias têm sido mais profícuas. O desenho animado mais popular do Discovery Canal é brasileiro. E os canais por assinatura têm sido os grandes compradores.
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