terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Ter Espírito Natalino

A cidade de espetáculo precisa transformar cultura em capital e a paisagem em mercadoria. Para isso, unem-se poder público e os empresários para celebrar a grande festa do consumo cristão. Pode existir coisa mais grotesca que o Natal Alles Blau?

Para contribuir com este período de reflexão e compaixão com a nossa miséria, estou postando uma das dicas do blog "The Classe Média Way of life: um guia para se comportar como a classe média brasileira".

http://classemediawayoflife.blogspot.com/


Ter Espírito Natalino


Não adianta tentar fugir: para ser médio-classista, é estritamente necessário gostar do Natal.


O Natal é uma festa que acontece todo final de ano, onde as pessoas louvam um deus sempre retratado de barba, que veio do céu para trazer à humanidade o que realmente importa nesta vida. Trata-se do Papai Noel, carregado com um saco bem grande de bens de consumo. O Papai Noel é uma divindade muito louvada pelos médio-classistas, um personagem criado pela indústria de refrigerantes como o símbolo da festa mais importante para a Classe Média: a época das compras de Natal.

Apesar de ser uma importante e apreciada época festiva, as origens do Natal, tal como hoje é conhecido, não são bem claras. Algumas correntes científicas defendem que a data era utilizada, em tempos remotos, para festejar o nascimento de Jesus, ícone das religiões cristãs. Esta teoria, no entanto, enfrenta forte combate quando exposta ao fato de que sua comemoração ocorre no dia 25 dezembro, contrariando a lógica pela qual o calendário ocidental moderno se utiliza do nascimento do mesmo personagem como marco zero, o que, por dedução, só estaria correto se o mesmo nascesse no dia primeiro de janeiro. A contra-argumentação dos estudiosos que ligam o Natal a Jesus apresenta duas versões para resolver o imbróglio: ou ele nasceu prematuro de 7 dias, ou ele só foi registrado no cartório 7 dias depois, porque os pais moravam na roça e naquela época era penoso e demorado chegar à cidade no lombo de um burro. Ainda não há consenso na comunidade científica sobre o assunto.


O Natal também é a época da afirmação dos verdadeiros valores da Classe Média, e isto ela faz com demasiado talento. No afã de deixar claro que ter nascido no Brasil foi apenas um acidente de locação geográfica, os médio-classistas se esforçam para compartilhar do mesmo tipo de festividades que os grandes irmãos do hemisfério norte, também conhecidos como "mundo civilizado". Abre-se mão do mundialmente invejado clima tropical, que proporciona, por exemplo, noites de agradável temperatura, preferindo ambientar suas comemorações em uma emulação do inóspito clima de nevasca. Em pleno calor causticante de verão, nossos shoppings se cobrem de neve de espuma e isopor. Velhos gordinhos, coitados, são fantasiados de Papai Noel, enfiados em vestimentas, luvas e botas inclusive, desenvolvidas originalmente para que esquimós consigam atravessar vastíssimos desertos de gelo em busca de focas gordas. A tortura se completa com milhares de lâmpadas incandescentes, para tornar o ambiente já quente em uma verdadeira chocadeira, e claro, horas a fio de música instrumental das famigeradas harpas natalinas. Haja saco, hein Papai Noel!

Um comentário:

m.cubiak disse...

Dae Ricardo!

Adoro o blog classemediawayoflife. É muito pertinente para nosso contexto.

Outro blog cheio de boas pérolas é o http://www.interney.net/blogs/aomirante

:-)