terça-feira, 28 de julho de 2009

Sobre violinos e invernos

por Viegas Fernandes da Costa
Há muito não via inverno tão frio em Blumenau. Para ser mais específico, há 22 anos que não fazia tanto frio na colônia, época em que surgiu o Festival Universitário de Teatro de Blumenau, evento que por todos estes anos aquecia-nos durante o inverno e que em 2008 fora alçado à categoria de internacional, trazendo grupos de diversos estados brasileiros, países latino-americanos e de Portugal, e suspenso neste ano por falta de recursos.
E o mais curioso é este silêncio, esta falta de manifestações a respeito da ausência do Fitub, e o anúncio de que parcela da classe artística blumenauense está se organizando para realizar o Nosso Inverno, pretensa “virada cultural” que conta com o apoio de diversas entidades, incluindo aí o Teatro Carlos Gomes, que cedeu gratuitamente suas instalações para a realização do evento.
Silêncio que começou a ser quebrado na blogosfera e que o escritor Maicon Tenfen começou a discutir no Santa (23 de julho). Vale lembrar, nenhuma destas entidades que agora dão integral apoio ao Nosso Inverno ofereceram-no quando do anúncio da falta de verbas para o festival.
Segundo Eduardo Deschamps, reitor da Furb, em carta publicada no blog de Maicon Tenfen, para 2010 o Fitub está orçado em mais de R$ 767 mil, dos quais R$ 537 mil deverão vir da contrapartida da própria universidade. E Deschamps escreve ainda: “A universidade tem grandes dificuldades de dispor anualmente em seu orçamento destes mais de R$ 500 mil”. Ou seja, não há garantias para o retorno do Fitub no próximo ano.
Seria bom, seria ótimo que todos sentíssemos o enorme buraco deixado pela ausência do Fitub este ano. Seria ótimo que o Teatro Carlos Gomes viesse a público reconhecer que nada fez para manter a periodicidade do festival, e que nós, artistas e sociedade, lavamos nossas mãos. Blumenau simplesmente negligenciou um dos seus patrimônios culturais mais relevantes, que fomentava arte, debates, formava público e propiciou o surgimento do curso superior de Artes Cênicas.
Não quero ser como aqueles maridos frustrados que afogam suas mágoas na cachaça do botequim. Estarei no Nosso Inverno, mas não beberei dessa cachaça, porque meu luto é pesado, porque há um buraco que é enorme, porque sopra um vento gélido em Blumenau e porque Maicon Tenfen tem razão, tudo indica que estaremos, mais uma vez, tocando violino aos afogados neste enorme Titanic.

Artigo publicado no Jornal de Santa Catarina, 28/07/2009, p. 2.

17 comentários:

viegas disse...

Nesta mesma edição, o Santa trouxe matéria a respeito da ausência do FITUB e da realização do Nosso Inverno. Chamaram-me a atenção, principalmente, duas falas. A primeira, do presidente do TCG, Ricardo Stodieck, que afirma que o teatro não apoia qualquer tipo de protesto. Portanto, para o TCG, o Nosso Inverno não tem caráter de protesto pela ausência do FITUB. É o teatro cerceado a liberdade de expressão e definindo aquilo que pode e aquilo que não pode ser apresentado em suas dependências. A segunda fala que me chamou a atenção foi a do jornalista Costadesouza, que não definiu o caráter de protesto do Nosso Inverno, mas pelo contrário, ficou em cima do muro. A posição deste jornalista me chamou a atenção pois pensei que depois da manifestação do GT - e consequente reunião - o "coletivo" havia decidido pelo caráter de protesto do evento. Como fui excluido do mailing do nosso inverno depois das minhas primeiras manifestações, acabei não sabendo em que momento o "coletivo" decidiu por cancelar o caráter de protesto do evento. Uma pena, porque mais uma vez a comunidade artística perdeu uma grande oportunidade de se posicionar e reivindicar o FITUB e políticas culturais para a cidade. Também gostaria de saber por que a PEÇA MANIFESTO não aparece no programa do Nosso Inverno. Afinal, acho importante e fundamental que toda sociedade, inclusive a FURB, FCBLU e TCG, saiba que haverá sim uma peça manifestou. Ou não haverá mais?
Abraço,
Viegas

Giovanni Ramos disse...

Mas é chato esse Viegas, hein? PELAMORDEDEUS! Queres saber por que a peça Manifesto não está na programação? TE INFORMA! Pergunta para o próprio pessoal do teatro, que teve a ideia (aliás, uma ótima ideia).

Não ajudou em nada e ainda reclama...

Nelson disse...

"sobre fezes e ventiladores..."

Fábio Ricardo disse...

Eu achei correta a versão do Teatro Carlos Gomes. Como o Stodieck falou, o TCG não apoiaria um movimento de protesto. Mas apoia um movimento cultural. Quem quiser protestar contra o TCG deve fazer isso, com certeza, mas fora do TCG.

Não faz sentido reclamar de falta de apoio quando o local está sendo cedido de graça.

É tudo com um sentido obscuro, é manipulação? É sim. Mas o Fitub e o Nosso Inverno são coisas diferentes, temos que ter essa visão bem clara.

viegas disse...

Sim Giovanni, sou chato, chatíssimo! E continuarei sendo. Mestre Nelson Rodrigues já dizia que toda unanimidade é burra. Quanto ao me informar, infelizmente fui cortado do mailing, que era por onde eu me informava.
Fábio, estarei na mesa redonda discutindo literatura, mas deixo claro, desde já, que farei minha manifestação de PROTESTO pela ausência do FITUB e pelo descaso do TCG, da FURB, da FCBLU e dos não chatos comportados.
Não abro mão da liberdade de expressão e não vendo minha consciência.
Abraços chatos,
Viegas.
Ps.: Continuo aguardando uma resposta. Haverá ou não uma peça manifestô? Se houver, por que não está no programa? A arte presta contas à sociedade.

Anônimo disse...

... a arte não tem dono, Giovani!
Mais ajuda quem critica do que aqueles que se calam!
Beijos,
Ernesto Silva.

Fábio Ricardo disse...

Viegas, não nos censuremos nunca!
Só acho que protestar contra o TCG de dentro do TCG é fácil demais.

E quanto ao Duelo, a discussão é sobre "literatura e internet". Não creio que a realidade do Fitub e do NI façam parte desse contexto para serem discutidas, mas tudo bem.

Também não usarei a mesa redonda para reclamar da falta de incentivo ao esporte, à educação e à saúde, etc. O assunto em pauta é literatura e internet.

Porém, acho que seria muito sudável a criação de uma discussão sobre "Cultura Local". Será que seria possível?

Conseguirmos uma sala, nem que seja de madrugada, para conversarmos exatamente sobre isso que tratamos normalmente apenas à distância.

E aí, alguem acha que é possivel?

Giovanni Ramos disse...

O evento nem aconteceu ainda e já estão criticando. Detalhe: os que mais criticam são aqueles não ajudaram em nada, não participaram de NENHUMA REUNIÃO, desde o começo do ano.

Se tivessem participado, não estariam falando várias bobagens. Ocorreu uma reunião EXCLUSIVAMENTE para discutir o carater do evento. Várias pessoas, opiniões diferentes e no final uma harmonia, um entendimento entre as pessoas, o que não significa todos pensando igual.

Inclusive reivindicações dos teatreiros foram atendidas. De fora, só reclmando, não há como saber disso!

Giovanni Ramos disse...

Ah sim, haverá a peça ainda! Horário e forma de divulgação sugerida pelo próprio GT de Teatro!

Felícia disse...

Não consigo, não consigo conceber tamanha dificuldade de alguns artistas de fazer a leitura do movimento, do fitub, do nosso inverno. De simplesmente renegar qualquer crítica que questione os objetivos do nosso inverno, inclusive punindo quem faz tais considerações com a exclusão da lista de emails. O que é isso, gente? Lembrem-se que temos muitos fetos artísticos neste movimento pelo nosso inverno, que estão começando agora e que talvez por isso lhes interesse somente apresentar sua arte, sem no entato compreender e respeitar a história do fitub. Teu umbigo não me interessa.

Anônimo disse...

Sugeri isto que o Fabio fala sobre a discução ao Rafael do Grupo k.

Viegas.Explicando,a peça do Coletivo de teatro será uma intervenção, não tem uma hora e nem um momento exato para acontecer. Talvez até aconteça o tempo todo, ou em pequenas insersões, ninguém sabe.

O certo é ... Acontecerá.

Monalisa

Anônimo disse...

Ah ... possivelmente O Monstro de Nukstein se apresente a 1 hora

Esta peça também e muito relevante as questões que estamos discutindo... eu recomendo.

mona

Daiana disse...

É triste a ausência do Fitub este ano. Mas, é ainda mais trágica a opinião de Costadessouza no Santa (28 de julho), ao falar em nome da classe artística. Trata-se de uma concepção equivocada e anti-democrática do processo. Soa como se ele também acreditasse nos violinistas do Titanic.
Daiana Schvartz,
Artista Visual

Ricardo disse...

Estava sentindo a ausência deste debate, pois já é hora dos artistas e da sociedade em geral se mobilizarem para garantir a continuidade deste que, sem dúvida, era o mais importante evento cultural da região. Sem o Fitub, nosso inverno será ainda mais frio.
Ricardo Machado
Historiador

Fábio Ricardo disse...

Não entendi dessa forma a colocação do Daniel. Ele apenas tirou o corpo fora, justamente para não repsonder em nome de ninguém.

Ali Assumpção disse...

tirou o corpo fora? pois, então era melhor se abster, do que falar que não é uma manifestação político-cultural - pois é.

ou não é? trata-se de um engodo?... (melhor eu ficar por aqui...)

Fábio Ricardo disse...

como falei: ele respondeu por ele e mais ninguém.

se alguém me perguntar o que é, para mim, o Nosso Inverno, eu vou responder que PARA MIM não é uma manifestação política de protesto, e sim um evento multicultural.

EU não estou protestando. EU quero discutir cultura e arte e não tenho motivos diretos para protestar sobre nada disso.

vc pode ter, eu não. por isso eh que cada um só pode responder por si mesmo. eu respondo POR MIM a quem me perguntar.