domingo, 26 de julho de 2009

FESTIVAL UNIVERSITÁRIO DE TEATRO 2

por Maicon Tenfen, em seu blog.

Não me surpreendeu o silêncio da chamada classe artística de Blumenau diante do que escrevi quinta-feira, no Santa. Quem quiser conferir o texto, basta clicar aqui. Lá digo que, no princípio de 2009, “com uma subserviência quase canina, responderam aos paliativos do poder público municipal e, desse jeito, acabaram legitimando a (deprimente) política cultural proposta pela atual gestão”.
Por que responderiam a uma acusação tão grosseira? De duas, uma: ou porque a acusação é grosseira mesmo, ou porque a tal subserviência canina permanece.
Surpreendeu-me, isso sim, que os dirigentes do Carlos Gomes, da Fundação Cultural e do SESC, questionados sobre o porquê da repentina generosidade com o Nosso Inverno, reservaram-se no mesmo silêncio. Repito a pergunta que fiz há dois dias: por que essas instituições não foram tão generosas quando se anunciou o cancelamento do Festival Universitário de Teatro?
Para mim, a resposta é muito clara: o apoio dado ao Nosso Inverno faz parte de uma estratégia de cooptação da classe artística, sempre cooptável, para esvaziar o caráter de protesto que teria (que terá?) o Nosso Inverno. Cultura também é política, por isso estou curioso para ver o que acontecerá no evento que, por enquanto, sugere um paliativo para a ausência do Festival de Teatro.
Mas, justiça seja feita, recebi resposta da quarta instituição citada no texto, a FURB. Para a transparência do debate, e com a autorização do autor, reproduzo, ipsis litteris, o texto que me foi enviado por e-mail. Há nele um dado interessante: a previsão de um orçamento de mais de R$ 750.000,00 para o FITB de 2010.
***



Prezado Maicon,

A respeito de sua coluna no Santa de quinta-feira passada, que em determinados momentos tratou da não realização do FITUB este ano, gostaria de prestar alguns esclarecimentos (apesar de compreender que a coluna se dirigia à classe artística da cidade e não à FURB).

1. Aguardei até hoje para lhe escrever, pois estava esperando a reunião de hoje do Conselho de Desenvolvimento Regional que iria discutir o apoio do Governo do Estado ao 23º FITUB, a ser realizado no ano que vem. Boas notícias, pois a proposta foi aprovada por unanimidade, faltando agora a aprovação no Conselho do Estado.

2. A nossa proposta não é a de descontinuar o festival. Observando o ciclo de captação de recursos, percebemos que eventos desta natureza, praticamente com apoio somente do poder público, têm maiores chances de captação de recursos se forem realizados com periodicidade menor, ou seja, ao invés de anual, bianualmente. Aliás, esta é uma sugestão dos próprios órgãos de fomento.

3. Para 2010, está previsto um orçamento de R$ 767.150,00 para o FITUB, sendo R$ 229.970,00 de recursos do Funcultural do Estado de SC e R$ 537.180,00 de contrapartida da FURB. Você conhece o orçamento da FURB, portanto sabe que a Universidade tem grandes dificuldades de dispor anualmente em seu orçamento destes mais de R$ 500 mil reais, pois significa retirar recursos de outros investimentos e da mensalidade dos alunos para aportar no apoio ao evento. O NUPEX e a PROPEX vêm trabalhando fortemente no sentido de obter os recursos necessários junto a patrocinadores para reduzir esta contrapartida, porém não é simples. Neste sentido caberia um apoio maciço da classe artística para que busquemos todas as formas possíveis para reduzir a contrapartida da FURB e ter o apoio maior de outros patrocinadores.

Aqui não quero fazer o papel de defensor da classe artística (até porque não tenho procuração para tanto). Porém cumpre registrar que foi feito pela FURB um trabalho de informação dos motivos que levaram à mudança da periodicidade do evento, e em nosso entendimento, a classe artística não se manifestou de forma mais contundente contra a medida em virtude da compreensão de todos da dificuldade que a Universidade teria em manter o festival no modelo antigo.

Um grande abraço

Prof. Eduardo Deschamps, Dr. Eng.
Reitor
Universidade Regional de Blumenau - FURB

14 comentários:

viegas disse...

Nas entrelinhas o reitor da FURB deixa claro que, ou a classe artística bota a cara na rua e exige do poder público e dos investidores locais apoio financeiro ao FITUB, ou a FURB não terá os quase R$ 600 mil para investir no festival em 2010. Em outras palavras, corremos o risco de não ter festival universitário de teatro em 2010. Isso é informação oficial, vem da reitoria da FURB. Por isso insisto, quantos invernos serão necessários para que o FITUB sucumba a tanto frio?
Abraço gelado,
Viegas

Fábio Ricardo disse...

sobre a primeira parte do texto, não sei pq o tenfen estranha tanto o fato da classe artistica nao se amnifestar sobre o que ele escreve.

afinal, o que ele escreve tem alguma serventia?

viegas disse...
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viegas disse...
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viegas disse...

Bem Fábio, são comentários como este teu que fazem com que continuemos pastando. Se não há serventia no que diz o escritor, encontre serventia no que disse o reitor. Ao invés de desconstruir o texto do escritor de forma banal e sem argumentos, discuta a questão e desconstrua-o com argumentos inteligentes. Agora, a posição da FURB (veja o que diz o reitor) é preocupante.
Abraço gelado,
Viegas

viegas disse...
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viegas disse...

E Fábio, embre-se, estarei no Nosso Inverno participando de uma mesa redonda promovida pelo Duelo de Escritores, do qual fazes parte (iniciativa que apoio integralmente). Eu te pergunto, então, será que haverá alguma relevância na minha participação? Ficarei no aguardo de uma manifestação tua, afinal, não me interessa debater com que não quer debater. E este é o grande problema Fábio, todos querem se mostrare, mas ninguém quer se olhar. Tá na hora de olhar pro próprio umbigo e desencavar a sujeira, que já fede há muito tempo.
No aguardo...

Fábio Ricardo disse...

bem, te respondi por e-mail, Viegas.
mas a todos, vale dizer que minha reclamação não é pelo que fala o Tenfen.
é sim pela forma com que ele o faz.

Fábio Ricardo disse...

até pq todos os participantes do Nosso Inverno que estão dizendo as mesmas coisas que ele, o estão fazendo de forma muito melhor e mais cabível de debate. os e-mails do grupo demonstram isso.

Ali Assumpção disse...

Pois, acho que a provocação do tenfen é sim, muito pertinente. E, acrescento, muito mais pertinente do que a pacata (e canina) adesão de grande parte dos artistas ao nosso inverno. Por que o medo de tocar nas feridas? Por que o medo de discutir? Por que o medo de polemizar? Por que o medo de não ter recursos para o equipamento de áudio mais sofisticado? Sinto informar mas, onde há excessiva segurança e conforto não há arte. Sem riscos não há produção intelectual, sem confrontos não há (des) construção, apenas reprodução. Pois... estou frustrada, decepcionada com este grupo que teme que algo dê errado, que acredita piamente que este evento é único e inédito ( além de falta de ousadia, está lhes faltando memória: avisamos aos marinheiros de primeira viagem que há muito anos, muito vem sendo feito pelos artistas da região e, diga-se de passagem, muito mais corajoso e autentico, se alguem não souber, pessoas p contar o q ja se passou por aqui não há de faltar - então surpresa (!): esse não é o evento mais simpático, mais artístico etc e tal)Acrescento ainda: arte não se faz pensando em entrar para a história, nem procurando ser o maior ou melhor ou mais simpatico e mais artístico. Há muita produção, muita leitura e muitos anos de caminhada, muitos erros e muita experimentação acontecendo por aí (juro!). Prefiro deixar a competitividade, a segurança, o top of mind, as relações de boa vizinhança ao universo corporativo e aos partidos políticos. Fico com meu conterrâneo: "nunca cometo o mesmo erro duas vezes. cometo tres quatro cionco seis, até esse erro aprender que só o erro tem vez", ou, se preferirem, com um alemão:"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música."

Mona lisa Budel disse...

Como já disse uma vez esses debates tem sido muito bons ... e acho essas questões levantadas pelo Maicon bem pertinentes. Mas há muitas outras coisas ainda nas entrelinhas.

Tenho só uma pergunta que me parece bastante válida nesta discussão e que coloca o dedo em mais uma ferida.

será que o público quer o festival de teatro??? e mais, será que Blumenau o quer??? A Furb ainda o quer ???

ás vezes me parece que não, pq vale lembrar que neste ano não tivemos turmas novas nem de artes visuais e nem de Teatro.

Essa carta do reitor me parece bem estranha.

Monalisa

Ali Assumpção disse...

pois,
- acho que a furb não o quer - como não quer nada que, dentro de seu modelo de gestão, não traga lucro ($)
- já o público o quer mas, por uma questão cutural, está acostumado se ficar calado, se conformar de boca fechada
- blumenau, bem blumenau quer produtividade, festa vez em quando e chopp e, ao que parece, o festival não se encaixa em nenhuma das alternativas...

> Agora, a classe artistica não esta quieta, o nosso inverno tem sim em sua proposta, desde o inicio, criticar as politicas culturais em blumenau e reclamar a ausencia do festival - alguem nega?

viegas disse...

Sim Monalisa, há muitas perguntas sem resposta!
Por isso a necessidade de nos manifestarmos claramente. Por isso a necessidade de protestarmos contra este homicídio cultural. Por isso a necessidade de olharmos com mais profundidade.
A Furb já deixou clara a sua posição a respeito do Festival e o TCG, na matéria de hoje do Santa, deixou claro sua política de cerceamento à liberdade de expressão ao rejeitar qualquer tipo de protesto. É este o apoio que queremos? Daqueles que entendem a arte como simples bibelô decorativo?
Como artistas, como estudantes, como cidadãos, temos a obrigação de chafurdarmos no lodo, revolvermos feridas, caso contrário não seremos nada, não teremos nada, não faremos nada. Não falta espaço para ESTA ARTE a que se reporta o presidente do TCG na matéria do Santa. Agora, falta espaço para a ousadia. Quando vejo artistas sugerindo a censura de uma peça, pedindo para pegar leve, com receio de perder espaço no teatro, quando vejo artistas excluindo pessoas do mailing do grupo porque se manifestaram de forma crítica, quando vejo artistas escrevendo que "vão dar bolacha" naqueles que os criticam, quando vejo artistas tratorando a história (como apontou a Aline acima) e reinventado a roda, felizes e iluminados, então fico preocupado. Movimento não significa caminhada. Muitos se mexem, mas quantos caminham?
Abraço fraterno, Monalisa.
Viegas

Anônimo disse...

Esses debates tem levantado questões como essas e digo que caminhamos para muitas outras ausências e muitos outros problemas. O Edital Elisabet Anderle é mais uma prova e mais uma avalanche de maracutais contra a Arte e a Cultura. Concordo com a Aline, não estão os artistas quietos, mitas discussões estão acontecendo e estamos todos crescendo com isso e trazendo questionamentos relevantes como os do Maicon e do Viegas. É importante manter o dialogo. Como já disse em reunião, apoio isso.

Abraços meus assim febril. Neste inverno mais frio que os outros.

Monalisa