Seja através da museificação da cidade ou pela difusão de uma cidade espetacular, a noção de marketing urbano produziu uma cidade pensada como imagem para o turista, mas restringiu as possibilidades de vivências públicas. Nas últimas décadas, Blumenau construiu uma paisagem carregada de referências a uma concepção de passado, mas que de forma complementar reproduz modelos muito próximos de um padrão mundial das redes de fast-food, shopping centers e parques temáticos. Concomitantemente passa por um processo de privatização dos espaços públicos pela especulação imobiliária e a conseqüente gentrificação (enobrecimento das áreas com expulsão da população mais pobre). Através de políticas públicas e investimentos privados áreas “revitalizadas”, são na verdade, revalorizadas pelo mercado imobiliário e com isso, levam a população empobrecida ou esteticamente transgressora para distâncias ainda maiores das melhores áreas e dos equipamentos urbanos. Ou seja, normalmente os projetos que pretendem revitalizar estão justamente implicados em retirar as vivências dos territórios.
Este processo de empobrecimento da experiência urbana tornou o medo permanente e, por isso, a constante reivindicação da própria população de mais vigilância e mais controle sobre si mesma. Só que esta mesma vigilância acaba produzindo ainda mais medo: o medo da rua, o medo da diferença, medo do contato e, sobretudo, o medo de estar fora do controle. Esta mercantilização do espaço nos divide e separa, e com isso, nos retirou o poder de decisão e ação sobre as possibilidades de circulação, socialização e trocas no espaço urbano. Além disso, não cessa de nos retirar a própria possibilidade da existência de uma experiência física urbana enquanto prática cotidiana.
Evidentemente que este caminho não é de mão única. Há muitos exemplos de experiências críticas a esta concepção de espaço e de cidade: desde os poemas de Baudelaire, a contracultura da geração beatnik, a deriva dos Situasionistas e as inúmeras intervenções artísticas nas cidades. Atualmente, podemos indicar uma nova “primavera das ruas” através das ocupações das praças de Tahir no Cairo, Plaza Del Sol em Madrid e no caso de Blumenau, as recentes ocupações da Prainha através do movimento que vêm se identificando como “Vamosiuní”. Estes movimentos, normalmente de jovens, indicam a necessidade de revitalizar as ruas, mas no sentido vital que esta palavra carrega, não simplesmente no sentido econômico. Isto será possível somente com a presença da vida e do sentido mais original da palavra política (pólis=cidade). Revitalizar não se trata de construir mais cenários, mas que possamos discutir as formas de apropriação do espaço público. É primordial a participação da população nas decisões sobre a cidade, mas, além disso, neste momento precisamos retomar a experiência efetiva e a vivencia em espaços urbanos. A cidade precisa deixar de ser cenário para passar a ser efetivamente um palco.
*Historidor e professor da Furb.
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