(Escrito a partir das mensagens eletrônicas que recebi a respeito da organização do Nosso Inverno)
Olá pessoas, boa noite!
Não participei das discussões do Nosso Inverno, não faço parte da Comissão organizadora e também não sou proponente de nenhuma atividade artística no evento (mas estarei no Carlos Gomes como público e, parece-me, participando de uma mesa redonda). De antemão digo isto para aqueles que creem que sou um "alienado" ao evento e que por isso não tenho o direito de me manifestar. A estes sugiro que apaguem esta mensagem neste momento já que não devo falar nada mesmo. Afinal, este NOSSO inverno não me pertence. Entretanto, considerando que minha caixa postal vem sendo diuturnamente bombardeada por mensagens do Nosso Inverno, considero-me no direito de me manifestar a respeito. Manifesto-me não na condição de escritor ou de qualquer outra coisa que o valha, mas de cidadão e de alguém que nestes 32 anos de vida aprendeu a prestigiar a arte, consumi-la (sim, por que não?) e, principalmente, debatê-la.
Este tempo todo fiquei quieto no meu canto. Não quis me meter, afinal, quando houve aquela palhaçada com a Marlene, o pessoal indo até a Fundação como "Cândidos" voltaireanos, legitimando a mulher no cargo, debatendo com quem estava lá apenas recebendo as benesses dos apoios partidários de antanho, troquei algumas palavras a respeito no Escambau e disse o que pensava, disse como cidadão e não como "artivista" e conquistei algumas inimizades. Arfff... Lembro-me d´"O velho e do Mar", aquela luta insana contra o peixe e a chegada à praia com a carcaça do animal às costas - a carne ficara com os tubarões, enfim!
Mas vamos à questão.
Sempre fui, e continuarei sendo, favorável à organização dos artistas. Sempre defendi o diálogo, a troca de ideias, de experiências e, principalmente, o espírito colaborativo. Entretanto, sempre critiquei o onanismo coletivo, o oba-oba, o exibicionismo puro e simples maquilado de manifestação artística, o bairrismo chauvinista e mesquinho.
Acredito que o Nosso Inverno tem que acontecer, claro que sim, mas não podemos deixar de olhar para este movimento sem tentar compreendê-lo, sem tentar questioná-lo, sem desconstrui-lo.
Lembro-me quando o Márcio lançou a ideia lá no Escambau. Achei porrada, e fiquei até entusiasmado - confesso. A ideia era dizer o quanto faria falta o FITUB e o quão relegada à própria sorte estão as manifestações artísticas na cidade. "O negócio vai pras ruas", pensei. "O pessoal vai fazer movimento, fechar a XV, pensar o novo, dar seu grito", sonhei. Mas aí repete-se o mesmo erro, aquele que fizeram com a Marlene, conversar com o Teatro. Porra gente, por que será que o TCG resolveu ser tão bondoso agora? Tudo gratuíto, tudo certinho, a arte nos conformes, disciplinada. Coisa do tipo: "pois é, chama as crianças, a gente dá os pirulitos e fica tudo certo, a gente limpa a nossa cara, não vão mais poder dizer que não abrimos espaços, fazemos uma moral junto da rapaziada, todo mundo limpinho, o ranho do nariz lavado e depois colocamos todos para dormir." Por que esta mesma direção do TCG não chamou a organização do FITUB e disse: ó rapaziada do teatro, se o problema é grana para fazer o festival a gente abre as portas do TCG, sem custo, dá equipe e tudo mais. O SESC podia entrar com iluminação e sonorização. A prefeitura dando mais uma forcinha, os empresários outra, afinal, SÃO MAIS DE 20 ANOS, e depois, o FITUB não é só teatro, é debate, é diálogo do povo daqui com o povo de lá, das outras bandas, tem até artista de fora, da Argentina, Uruguai, Colômbia, Portugal etc. Um negócio cosmopolita que estava dando certo. Pois é, mas pro FESTIVAL ninguém se mexeu. Ninguém mesmo! Foda-se, a gente faz o nosso inverno, todo mundo aparece, até mesmo quem nunca produziu arte nenhuma, a gente bebe, fuma, escuta música, vê peça, quadro, uns poemas - quem sabe - e depois sai feliz, com a certeza que fez história, que nunca Blumenau viu nada parecido. Arfff de novo!!!!
Seria bom, seria ÓTIMO, seria MARAVILHOSO que todos sentíssemos o enorme buraco deixado pela ausência do FITUB este ano. Seria ótimo que o TCG viesse a público reconhecer que nada fez para manter a periodicidade do festival. Não quero ser como aqueles maridos frustrados que afogam suas mágoas na cachaça do botequim. Estarei no Nosso Inverno, mas não beberei dessa cachaça, porque meu luto é pesado, porque há um buraco que é enorme, porque este narcisismo medíocre mata as possibilidades de se construir coisas realmente novas. Pessoal, Blumenau vive dessas overdoses, e o Nosso Inverno é mais uma delas. O pessoal das antigas deve lembrar do movimento Blumenália Poética. Eu me lembro, por exemplo, das Tardes Bêbadas e, ao conversar com diversos artistas mais experientes , e pessoas que já viveram muitos momentos da história cultural dessa cidade, descubro que não há nada de novo debaixo do sol. O Festival movimentava grupos do país inteiro e do exterior, o nosso inverno movimenta quem?
Certamente o evento será um sucesso. Terá público, claro que sim! Afinal, são mais de 200 artistas. Se cada um trouxer pai e mãe já serão 600 pessoas. E tem os irmãos, filhos, cônjuges, avós, tios etc... Deve dar uns 2000, por baixo. Vai ser legal, o Santa vai cobrir o evento, o Gustavo Siqueira talvez esteja lá com o microfone da Galega entrevistando os mais descolados e, claro, vai estar cheio de blogueiro e twitteiro. Será a glória em bytes, pixels e tinta. Depois... Bem, depois veremos se teremos Festival em 2010. Talvez o TCG, a FURB e a FCBLU considerem o evento desnecessário já que NOSSA colônia, sempre tão ordeira, com artistas tão exemplares e disciplinados que organizam eventos tão bonitos e são recebidos pelo presidente do TCG (glória das glórias!) consegue por si só organizar o Nosso Inverno!
Desculpem o desabafo, mas não consegui mais ficar quieto. Como disse, acho importante que os artistas dialoguem e se organizem, que lutem por sua arte e por espaços, que consigam viver dela, mas não consigo fechar os olhos para o que está acontecendo.
Márcio, tens razão quando te indignas com o horário da peça manifesto, mas creio que esta peça não precisa e não deve estar DENTRO do Teatro, não agora, não neste momento. No exato momento da abertura do Nosso Inverno, quando estiverem sentados nas poltronas nossos administradores da cultura, esteja a peça manifesto na praça ou na rua. Que se faça um verdadeiro manifesto. Que se enfie o dedo na ferida e se lacere as úlceras. A cidade precisa purgar seu descaso! Eu estarei lá, na praça, na rua, para aplaudir e me envergonhar também, afinal, como cidadão, sou responsável pela realidade que compartilho.
Abraço a todos,
Viegas