quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Fragmentos e ecos de Dada



A mania incurável de reduzir o desconhecido ao conhecido, ao classificável, só serve para entorpecer cérebros. (André Breton)

1. Em 2016, comemoraremos o centésimo aniversário do Dada (1916-). Em 2024, o do Surrealismo (1924-). Até lá, vamos tomar chá e comemorar os seus desaniversários.

2. Lewis Caroll sabia fazer truques de mágica.

[Perdoe a idolatria por Alice. Devemos entrar em tocas de coelho e comer cogumelos antes que tudo vire um pesadelo cinza. Antes que proíbam as vacas de fazerem cocô.]

3. A nau Dada, nau-seabunda rumo ao continente selvagem do inconsciente, traçou a rota pro surrealismo, reestabeleceu o fluxo, celebrou o onírico, abriu a "válvula redutora" huxleyana, ecoou nos trocadilhos joyceanos.

4. Em 1929, James Joyce publica o Finnegan´s Wake. O poliglota de idiomas fictícios sabia que tudo começa no caos e termina no caos e que ninguém pode impedir o dragão de correr atrás do próprio rabo.

5. "Cada indivíduo é ao mesmo tempo beneficiário e vítima da tradição linguística em que nasceu", diz Huxley, n´As Portas da Percepção.

6. Em 2008, o manifesto surrealista, junto com outros pedaços de papel, foi leiloado e vendido por mais de 3.600.000,00 euros. O comprador é uma pessoa que gosta de comprar.

Vende-se este texto. Aceita-se encomendas.



7. O que é dada?

Pegue um jornal. Pegue a tesoura. Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema. Recorte o artigo. Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco. Agite suavemente. Tire em seguida cada pedaço um após o outro. Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. O poema se parecerá com você. E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.

8. Em 2007, Alex Primo criou o Antimecanismo, um gerador on-line de poesia dadaísta. Assim ninguém precisa cortar jornal. Você pode escolher que o gerador sorteie a poesia inteira, ou palavra por palavra.

"Alguém poderia argumentar que trata-se de um mecanismo para geração de textos inúteis. Um mecanismo de geração de textos que não serve para nada". (Primo)

Não serve pra nada. É acaso. Não serve pra escrever no cartão de natal. Não serve pra pegar ninguém. Não transforma ninguém em artista. Pra nada.

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