quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Enquanto Godot não chega...

Enquanto Godot não chega...


Viegas Fernandes da Costa

... cai-me à mesa uma edição do caderno de Cultura do Zero Hora de 21 de novembro de 2009. Na capa, Itálico Marcon. Nunca tinha ouvido falar! Segundo Luiz Antônio Araujo, o autor da reportagem, Marcon é (ou era, haja visto os últimos eventos) o segundo maior bibliófilo do Brasil. Perde (perdia), apenas para Delfim Netto, este sim o maior juntador de livros brasileiro. Claro, falamos aqui dos maiores bibliófilos considerando o número de títulos que possuem sob sua guarda, e não a qualidade e raridade dos mesmos. Não importa! Marcon virou meu herói dado seu desprendimento! Sua biblioteca atulhava três apartamentos em Porto Alegre, livros adquiridos durante seus setenta anos de vida. Apartamentos que agora estão esvaziados de tanto papel e verbo. Itálico Marcon simplesmente resolveu doar 180 mil volumes da sua coleção para um projeto chamado “Banco de Livros”, que tem o apoio de Luis Fernando Veríssimo. O objetivo do “Banco de Livros” é montar acervos em comunidades carentes.

Fico aqui pensando na dimensão do gesto. Todo bibliogâmico sabe dos ciúmes que um livro (ou toda uma biblioteca) pode provocar. Diria até que os livros nos chantageiam emocionalmente, atiçam-nos a libido, oferecem-se às nossas mãos, olhos, bocas, e depois nos põem escravos de si. Imploram cuidados, atenção permanente, frágeis e melindrosos que são. Mas sem tergiversações, dizia do gesto, da dimensão do gesto de Itálico Marcon.

“Não foi o primeiro a fazê-lo”, Pode argumentar alguém. “Está aí José Mindlin, que doou sua rica biblioteca à USP”. “É diferente”, responderei. Ainda que também bastante admirável a atitude de Mindlin, há uma diferença substancial entre o gesto deste e o de Marcon. Mindlin doou sua biblioteca a uma única instituição universitária, e o fez cercado de exigências. Justo, claro. Bibliogâmico que é, quer ver seus livros bem preservados, tratados com o zelo de que nunca se viram privados. Além disso, Mindlin constitui um monumento à sua memória na medida em que entrega uma coleção que preservará seu nome e ficará reunida em um único espaço. As gerações futuras saberão que aqueles livros foram reunidos por uma figura lendária, chamada José Mindlin, que dedicou boa parte da sua vida caçando pelo mundo livros únicos. Não neguemos, a imortalidade é boa paga ao desprendimento de Mindlin. Já no caso de Itálico Marcon, o desprendimento se dá em outro nível.

Ao doar os 180 mil volumes da sua biblioteca particular ao projeto “Banco de Livros”, Marcon pulveriza sua coleção e dissolve a possibilidade de transformar seu gesto em ato monumental. Fica, claro, o registro da doação na imprensa e nas comendas que certamente receberá, porém o “lugar de memória” físico, acessível por corpos humanos não virtuais, este não existirá. É como o sujeito cujo cadáver sepultamos no mar. A lápide de uma sepultura é sempre a garantia de uma certa imortalidade, ainda que efêmera; de um certo estar no mundo, ainda que ausente. E é justamente esse sepultamento no mar, essa entrega de uma biblioteca, razão de ser de toda uma vida, para que se pulverize e chegue, de fato, às mãos de leitores anônimos e espalhados pela periferia portoalegrense, que torna a doação de Marcon tão significativa e magnânima.
Que sejam lidos, entretanto, os livros doados, e não se percam, nas obscuras prateleiras da burocracia ou em bibliotecas ora suntuosamente inauguradas e futuramente abandonadas e esquecidas, os livros mofados destinados à reciclagem. É isto o mínimo que podemos devolver a Marcon.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

PÓS-GRADUAÇÃO EM MODA E DESIGN na Orbitato



Estão abertas as inscrições para a nova turma do curso de Pós-Graduação em Criação e Desenvolvimento de Produtos para Moda e Design, do Orbitato – Instituto de Estudos em Arquitetura, Moda e Design, de Pomerode (SC). O curso é uma parceria entre o Orbitato e a Unerj – Centro Universitário de Jaraguá do Sul.
Com proposta interdisciplinar a pós-graduação do Orbitato conta com a experiência de professores atuantes no segmento e renomado destaque como na moda, o estilista mineiro Ronaldo Fraga, e no design Industrial destaca-se o argentino Alejandro Sarmiento, entre todos os outros professores. “Acreditamos que aproximar pessoas, empresas, mercados, estudantes, profissionais, realidades e saberes permite o desenvolvimento. Não no sentido de ser maior, mas de ser melhor” afirma Celaine Refosco, coordenadora do Curso e diretora do Orbitato.

Profissionais graduados ou atuantes na área de 'Criação e Desenvolvimento de Produtos' para as áreas de Design e Moda; profissionais que trabalham na condição de designers, estilistas, consultores, empresários, professores ou outros vinculados ou interessados em vincular-se ao ramo da moda e do design, podem compor a nova turma, que pretende iniciar em março de 2010.

Em seu histórico o curso conta com duas turmas em andamento e pode, nestes quase dois anos de atuação, oportunizar trabalhos de criação com importantes empresas ligadas ao desenvolvimento de produtos e pesquisas internacionais. Mais informações podem ser obtidas pelo site www.orbitato.com.br, ou pelo telefone (47) 3395-0447. Para solicitar as imagens anexas em resolução de impressão enviar email para contato@orbitato.com.br.
Orbitato - Instituto de estudos em Arquitetura, Moda e Design
t:  + 55 (0) 47 3395 0447
c: 47 8844 5557

Salão Elke Hering - O Retorno


 











Blumenau, 25 de janeiro de 2010.

Prezados Srs.(as)



              A Fundação Cultural de Blumenau, através do Museu de Arte de Blumenau – MAB, vêm informar-lhes oficialmente a respeito das datas referentes ao 9° Salão Elke Hering:


v     Seleção da Obras: 20 e 21 de Fevereiro
v     Resultado da Seleção: 22 de Fevereiro
v     Abertura do Salão Elke Hering: 25 de Março


O resultado da seleção será informado por e-mail e/ou telefone
Aproveitamos a ocasião para desejar um Ano Novo de muita produtividade e sucesso e boa sorte a todos os inscritos.


Em caso de dúvida, contate-nos: (47) 3326-6596 / (47) 9968-9860; mab@fcblu.com.br .


Atenciosamente,

Carlyle da Costa Jr.
Gerente - MAB

Projeto ENTER

Prezados

Na próxima segunda(02 de fevereiro) inicia através do Projeto ENTER, a programação de cultura do SESC Blumenau.
Segue abaixo a listagem de eventos. Prestigiem!!
Observação: A apresentação da Cia Trampolino, teve seu dia alterado, assim que confirmado divulgaremos.


Data, horário
Nome da programação/Linguagem
Local
02/02 – 20h
Brasilidades - Nana Toledo e Trio Mazzaropi
Fundação Cultural de Blumenau
03/03 – 13:30h/17:30h
Todos os contos: o conto (Oficina de Literatura) - Carlos Henrique Schroeder.
Auditório SESC Blumenau
03/03 - 20h
Lançamento de “As certezas e as palavras” - Carlos Henrique Schroeder.
Casa SESC
04/02 – 20h
Chá de Cevada
Fundação Cultural de Blumenau
05/02 – 20h
Obscena Senhora D
Fundação Cultural de Blumenau
06/02 – 20h
TERRAGON – Cia Plural
Fundação Cultural de Blumenau
07/02 – 20h
AYRES Y MARES Willy González e Micaela Vita (Argentina)
Fundação Cultural de Blumenau
08/02 - 09h
Mostra de Curtas Brasileiros
Auditório SESC
08/02 - 15h
Mostra de Curtas Brasileiros
Auditório SESC
09/02 – 15h
É tentando que se desiste – James Beck
Praça Dr Blumenau
09/02 – 20h
A Caixa – Cia Mutua
Fundação Cultural de Blumenau
10/02 – 20h
Encontro com autores do livro - ESTAÇÃO CATARINA – O Trem Passou Por Aqui
Auditório SESC

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O desafio do audiovisual brasileiro

o Luís Nassif publicou, em seu blog, um interessante texto sobre o mercado audiovisual no Brasil. Talvez, poderíamos dar alguns "pitacos" sobre a produção local e catarina.


Abraços!
Márcio


O desafio do audiovisual brasileiro

Coluna Econômica – 25/01/2009

Há um conjunto de obstáculos ponderáveis para a criação de uma indústria brasileira de audiovisual. A rigor, deve-se avançar em duas frentes: a do fomento e a da distribuição.

Coordenador Geral de Políticas Audiovisuais do Ministério da Cultura, James Görgen considera que a primeira parte da equação – o fomento – está razoavelmente equacionado.

Hoje em dia, no financiamento a fundo perdido o Ministério da Cultura tem uma área de fome, com editais lançados periodicamente para financiamento de pequenas produções a fundo perdido. No momento, existem 11 editais abertos em várias áreas, para animação, curtas e longas metragens de baixo orçamento. Existe também a Lei Rouanet de incentivo à cultura.

Na área de TV, o programa Doc Tv – de estímulo a documentários de iniciantes – também gerou boa quantidade de programas. O MinC criou o Programa Olhar Brasil, visando criar núcleos de produção digital nas cidades. Entregam equipamentos para conselhos gestores, que providenciam professores. O programa está em 12 estados, mas ainda timidamente devido aos custos envolvidos.

***

No caso do mercado mais profissional, a ferramenta de atuação é a Ancine (Agência Nacional de Cinema) que dispõe da Lei do Audiovisual e o Funcine – fundo que permite atrair capitais de risco para empreendimentos.

Até agora, os investimentos têm se concentrado em projetos individuais, em filmes, onde a percepção de risco é mais nítida. Mesmo assim, os planos de negócios desses filmes não tem controle sobre uma variável fundamental: o tempo de permanência nos cinemas.

E aí se entra no outro ponto da questão, que é a distribuição.

***

O problema é a distribuição.

Hoje em dia, praticamente toda produção brasileira – com exceção de filmes amparados por estruturas de distribuição internacionais ou redes de TV aberta – está nas prateleiras. A única porta e exibição é a TV pública, TV Brasil, Fundação Padre Anchieta e rede estadual.

Sem a perna da TV aberta, o modelo de negócio torna-se complicado.

***

O mercado audiovisual trabalha sobre quatro janelas de faturamento: cinema, TV aberta, Internet e dispositivos móveis.

No caso da TV aberta, as redes foram montadas em cima de uma lógica perversa para a produção nacional. A maior parte do conteúdo é produzida na cabeça de rede ou na compra de pacotes de filmes e séries do exterior, que já amortizados dos países de origem. Apenas 15% das afiliadas têm alguma produção própria.

Embora a TV aberta pague valores irrisórios pelos filmes nacionais exibidos, a visibilidade é essencial para viabilizar as outras três janelas. O caminho natural seria a introdução de cotas tanto para filmes nacionais quanto para produção de afiliadas.

***

Sem visibilidade, torna-se difícil penetrar nos esquemas de distribuição de cinemas.

Hoje em dia, 95% dos municípios não têm cinemas. Nos demais, os cinemas estão acompanhando a especulação imobiliária e se concentrando nos shoppings.

As redes de cinemas – 1

No caso dos cinemas, uma alternativa seriam as cotas, mas encontra resistências. Então terá que se consolidar a boa qualidade. Difícil furar bloqueio das internacionais porque não o tem a brasileira. E as internacionais também usam o esquema de venda de pacotes para ocupar os espaços. Mesmo redes e distribuidores nacionais se associaram às internacionais, impondo pacotes. Além das redes próprias internacionais.

As redes de cinemas – 2

Existem redes nacionais de médio e grande porte. Mas a falta de histórico de produção impediu o aparecimento de grandes distribuidores. Há programas visando permitir que prefeituras e organizações sociais tenham suas salas de exibição. Mas valem apenas para a produção alternativa, não para o filme comercial. O projeto Programadora Brasil disponibiliza para essa rede 500 títulos a preços módicos.

Os produtores – 1

Um dos grandes desafios será superar o chamado filme de autor – aquele no qual o diretor define o que quer filmar. Na China e na Índia, a produção se viabilizou com as encomendas, diretores e produtores acertando com os compradores o formato do produto. Mas ainda há muita resistência, devido aos vícios dos tempos em que todo o cinema era bancado com recursos não reembolsáveis.

Os produtores – 2

Um caminho promissor tem sido o da co-produção com canais a cabo – especialmente os estrangeiros. Mas apenas diretores provenientes do mercado publicitário têm tido jogo de cintura para fazer o filme sob demanda. Na área da animação as parcerias têm sido mais profícuas. O desenho animado mais popular do Discovery Canal é brasileiro. E os canais por assinatura têm sido os grandes compradores.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

ASSEMBLEIA SETORIAL DE TEATRO E CIRCO DE SANTA CATARINA

CONVITE PARA ASSEMBLEIA SETORIAL DE TEATRO E CIRCO DE SANTA CATARINA

II Conferência Nacional de Cultura

Convidamos todos os representantes dos segmentos de teatro e circo de Santa Catarina para participarem da Assembleia Setorial de Teatro e Circo que será realizada dia 30 de janeiro, às 13h, no Teatro Municipal de Itajaí pela Fecate através da Funarte, por meio do seu Centro de Artes Cênicas.

Este encontro visa reunir artistas, produtores, gestores, técnicos e todos os envolvidos na cadeia produtiva das artes cênicas do estado, para avaliação e discussão do Plano Nacional de Cultura, criação de propostas de estratégias e eleição dos delegados estaduais que participarão da Pré Conferência Setorial de Cultura.

Contamos com sua participação!

Assembleia Setorial de Teatro e Circo de Santa Catarina

Data: 30 de janeiro - sábado

Horário: 13 horas

Local: Teatro Municipal de Itajaí

endereço: Rua Gregório Chaves, 111, Fazenda.

Informações: 47 99738315 - Leone Silva
fecate@gmail.com






Imagens de férias...







Rua dos Plátanos






Além Tejo






O Tejo



quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

28 de janeiro - ASSEMBLÉIA ESTADUAL DO FÓRUM DE ARTES VISUAIS DE SC

ASSEMBLÉIA ESTADUAL DO FÓRUM DE ARTES VISUAIS DE SC
 MUSEU VICTOR MEIRELLES - FLORIANÓPOLIS
NA PRÓXIMA QUINTA FEIRA
28 DE JANEIRO A PARTIR DAS 18H

Endereço: Rua Victor Meirelles, 59 Centro
Fone/Fax: (048) 3222-0692

*

*pauta :*
*INDICAÇÃO, DISCUSSÃO E OFICIALIZAÇÃO DA*
*Delegação de Santa Catarina para a Pré-Conferência Setorial das Artes
Visuais*.
(conforme discussão do e-grupo fórum_sc_artesvisuais)
 http://groups.google.com/group/forum_sc_artesvisuais?hl=pt-BR.
*Ao final quando isso estiver resolvido podemos fazer encaminhamentos *
*e um possível plano de ação com as principais metas que precisam *
*ser imediatamente articuladas internamente*
*"no estado que nos encontramos..."*

_____________________

Extraído do fórum_sc_artesvisuais 
http://groups.google.com/group/forum_sc_artesvisuais

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Artes Visuais em Pauta

Amigos, ingressei esta semana num "Grupo de discussão ( http://groups.google.com/group/forum_sc_artesvisuais ) criado para articular propostas de política cultural para as Artes Visuais em Santa Catarina em relação deste com o Colegiado Setorial de Artes Visuais MINC/FUNARTE. O e-grupo forum_sc_artesvisuais tem o intuito de facilitar a comunicação e a troca de informação entre as diversas regiões de Santa Catarina sobre os encaminhamentos que serão debatidos."

Neste fórum estão sendo debatidas questões de grande relevância para o cenário das artes visuais e das políticas culturais estaduais e federais. Nesta semana, um dos pontos discutido tem sido a Pré-Conferência Setorial de Artes Visuais que acontecerá nos dias 22, 23 e 24 de fevereiro em Brasilia. Na quinta-feira que vem, haverá uma Assembléia em Floripa, que indicará os nomes/candidatos a representar SC no Colegiado Setorial de Artes Visuais.

Convido os artistas de plantão a acessarem a lista e se interarem do que está acontecendo, participarem, trata-se de um momento decisivo e, diante das tantas mazelas com as quais temos tido que conviver (palhaçadas do Funcultural, atraso de salões de arte, atraso em editais e pontos de cultura, má distribuição de verbas, distorção de conceitos arte/turismo...), nada melhor do que botar a boca no mundo na hora certa, canalizar esforços e exercer e ocupar um espaço a que temos direito perante o Estado...

Enfim, falei...

quem quiser acessar e participar: http://groups.google.com/group/forum_sc_artesvisuais

Nova Investida contra a Democracia

Nova, pessoas, por que houveram outras. A grande imprensa anda paranóica. Parecem clamar pelas marchas da família com Deus para a liberdade.

Uns dez dias depois dos ataques desferidos pela Igreja, Militares, Grande imprensa e agronegócio contra o Plano Nacional de Direitos Humanos 3, os mesmos atores recorrem ao terrorismo e a baixeza agora contra a II Conferência Nacional de Cultura.

Mas antes do PNDH 3 e da Conferência de Cultura, teve a Confecom, Conferência Nacional de Comunicação, que as grandes empresas boicotaram.

No Brasil, a qualidade dos jornais vem decaindo, especialmente Folha de São Paulo, Veja e Estadão. Esses veículos já ganharam até apelido na blogosfera, PIG, Partido da Imprensa Golpista. Ainda insistem na mentira da neutralidade, quando na verdade são extremamente parciais.

Neste Editorial, ou seja, a linha mestra do Jornal, intitulada "Nova Investida contra a Democracia", o veículo compara os participantes da Conferência como skinheads e nazistas, ao mesmo tempo em que os chama de arruaçeiros e pouco inteligentes. O Jornaleco acusa um golpe, uma cubanização do Brasil e outros absurdos terceiro-mundistas como a valorização da cultura indígena. Termina chamando a Oposição para dar Basta.

Não acredita? Lê abaixo!
o Link está aqui - http://bit.ly/7XB9sx

Nova investida contra a democracia


Vem aí mais um ataque à liberdade de informação e de opinião, preparado não por skinheads ou outros grupos de arruaceiros, mas por bandos igualmente antidemocráticos, patrocinados e coordenados pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A 2ª Conferência Nacional de Cultura, programada para março, foi concebida como parte de um amplo esforço de liquidação do Estado de Direito e de instalação, no Brasil, de um regime autoritário. O controle dos meios de comunicação, da produção artística e da investigação científica e tecnológica é parte essencial desse projeto e também consta do Programa Nacional de Direitos Humanos, outra desastrosa proposta do governo petista. O texto-base da conferência poderia figurar num museu de teratologia política, como exemplo do alcance da estupidez humana. Antes de enviá-lo para lá, no entanto, será preciso evitar a sua conversão em roteiro oficial de uma política de comunicação, ciência e cultura.

A palavra cultura, naquele texto, é usada com tanta propriedade quanto o verbo "libertar" na frase famosa "o trabalho liberta", instalada sobre o portão de Auschwitz. "O monopólio dos meios de comunicação", segundo o documento, "representa uma ameaça à democracia e aos direitos humanos." É verdade, mas não existe esse monopólio no Brasil nem nas verdadeiras democracias. Um regime desse tipo existe em Cuba, como existiu noutras sociedades submetidas a regimes totalitários, sem espaço para a informação, a opinião e o confronto livre de ideias. Muitos dos companheiros do presidente Lula, entre eles alguns de seus ministros, nunca desistiram da implantação de algo semelhante no País. Segundo Lula, sua carreira política teria sido impossível sem a liberdade de imprensa, mas hoje essa liberdade é um empecilho a seus projetos de poder.

O documento defende "maior controle social" sobre a gestão de rádios e TVs públicas. Mas "controle social", em regimes sem liberdade de informação e de opinião, significa na prática o controle total exercido pelo pequeno grupo instalado no poder. Nenhum regime autoritário funcionou de outra forma. Também a palavra "social", nesse caso, tem um significado muito diferente de seu valor de face.

É preciso igualmente controlar a tecnologia: este princípio foi adotado desde o começo do governo Lula. Sua aplicação só não liquidou a Embrapa, um centro de tecnologia respeitado em todo o mundo, porque a maioria da comunidade científica reagiu. A imprensa teve papel essencial nessa defesa da melhor tradição de pesquisa. Isso a companheirada não perdoa. No caso do presidente Lula, o desagrado em relação à imprensa é reforçado por uma espécie de alergia: ele tem azia quando lê jornais.

Mas o objetivo não é apenas controlar a pesquisa. É também submetê-la a certos "modelos". "No Brasil, aprendemos pouco com as culturas indígenas; ao contrário, o País ainda está preso ao modelo colonial, extrativista, perdulário e sem compromisso com a preservação dos recursos naturais", segundo o documento.

Cultura extrativista, ao contrário do imaginado pelo companheiro-redator desse amontoado de bobagens, era, sim, a cultura indígena. O agronegócio brasileiro, modernizado, eficiente e competitivo, não tem nada de colonial, nem na sua organização predominante nem na sua tecnologia, em grande parte fornecida pela pesquisa nacional de mais alta qualidade. Ou talvez o autor daquela catadupa de besteiras considere colonial a produção de automóveis, tratores, equipamentos industriais e aviões. Não deixa de ter razão. Os índios não fabricavam nenhum desses produtos, mas indígenas das novas gerações não parecem desprezar essas tecnologias.

Segundo a secretária de Articulação Institucional do Ministério da Cultura, Silvana Lumachi Meireles, nenhuma proposta contida no documento pode gerar polêmica. Todos os itens, argumentou, foram referendados em conferências regionais. Mas conferências desse tipo não têm o poder de transformar tolices em ideias inteligentes nem propostas autoritárias em projetos democráticos. O governo insistirá, a imprensa continuará resistindo. A oposição poderia ajudar a conter esse projeto insano, se deixasse o comodismo e mostrasse mais disposição para defender a democracia do que mostrou diante do ameaçador decreto dos direitos humanos.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Errata

Olá!

Pessoas,
Acho importante reparar algo. No final do ano passado, em virtude de conversas com algumas pessoas ligadas ao Teatro, constatamos que alguns projetos não tinham dinheiro disponível em suas contas correntes, havendo inclusive, cheques voltando. São projetos aprovados no Fundo Municipal de Cultura de Blumenau. Acabei publicando aqui a informação e perguntando se haviam mais situações parecidas.

Cabe ressaltar que a situação já foi esclarecida e por conseguinte, retirei o post. Alguns projetos apresentaram tais problemas por que não tiveram os depósitos realizados em CONTA CORRENTE. Quando os proponentes foram procurar mais a fundo, acabaram descobrindo que os recurso do Fundo haviam sido depositados em CONTA POUPANÇA. Ou seja, todos os projetos aprovados tiveram seus recursos repassados ainda em outubro do ano passado, conforme previsto no Edital.

Peço, desta forma, desculpas por qualquer ejaculação precoce.
No mais, grandes beijos!

Márcio Cubiak

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Entre cadáveres e casas velhas, a literatura

Entre cadáveres e casas velhas, a literatura


Viegas Fernandes da Costa


Quando Maicon Tenfen lançou a primeira edição da novela “Um cadáver na banheira”, em 1997, lembro-me de uma entrevista que concedeu a um programa televisivo, onde afirmou que sua preocupação, enquanto escritor, era apenas escrever uma boa história. Em 2008 tive a oportunidade de entrevistar Tenfen para o “Sarau Eletrônico”, e perguntei a ele se escrever era isso, apenas contar uma boa história. A resposta? “Continuo com a idéia de que um bom conto deve contar uma boa história, um bom romance é aquele que conta uma boa história. Mas não apenas! Por trás daquilo você vai encontrar uma cosmogonia capaz de lhe fazer refletir sobre muitas coisas, sobre a sua própria vida, sobre a sociedade e o mundo em que você vive.” Ou seja, Tenfen continua acreditando na força da narrativa, em seu poder de enredar o leitor e de aprisioná-lo nas possibilidades da trama, entretanto, reconhece que a literatura não se limita à fruição.
Ainda que não o reconhecesse publicamente, quando lançou “Um cadáver na banheira”, Maicon Tenfen já começava a esboçar nesta novela um projeto literário que tem por objeto questionar e refletir a respeito do fazer literário e do mercado editorial. Projeto que o autor de certa forma explicita com a publicação da terceira edição de “Um Cadáver...” (2007) e, mais recentemente, com seu livro de contos “Casa Velha Night Club” (2009). Em ambos os títulos, a proposta metaliterária é clara, e a relação direta entre os dois livros é estabelecida abertamente pelo próprio autor, não só através das menções feitas pelo personagem Maicon Tenfen em “Canil para cachorro louco”, conto que fecha “Casa Velha...”, bem como nas referências que encontramos fora do espaço da fábula propriamente dita. Quando observamos, por exemplo, os créditos de revisão ortográfica e gramatical da terceira edição de “Um cadáver...”, vamos nos deparar com o nome de Genésio Campanelli, informação nova, já que nas edições anteriores dessa novela (1997 e 1999) não se fazia alusão ao revisor. Genésio Campanelli aparece novamente nos agradecimentos de “Casa Velha...” e, pasmem, como protagonista do já referido conto “Canil para cachorro louco” na pele de um pacífico e metódico professor universitário que se vê envolvido numa trama de sexo, chantagem e homicídio. Ultrapassando os limites tradicionais da fábula, Maicon Tenfen faz uso dos espaços extraliterários do livro para conferir maior verossimilhança a sua trama, brincando com as fronteiras da ficção e da realidade e enveredando por aquilo que Tzvetan Todorov chama de “autoficção”. É o caso, por exemplo, quando o professor Genésio Campanelli reconhece, na geografia do conto, o escritor Maicon Tenfen: “Era um colega seu, um amigo de muitos anos, um ex-aluno que recentemente se tornara professor da Universidade. Era Maicon Tenfen, o escritor.”


O excerto acima lembra o primeiro capítulo de “As palavras e as coisas”, de Michel Foucault, onde o filósofo analisa a cena apresentada no quadro “Las Meninas”, pintado em 1656 por Diego Velázquez. Foucault nos aponta a presença de Velázquez no interior da cena, pintando um quadro em que, muito provavelmente, retrata aquilo que se descortina aos seus olhos e que podemos supor sermos nós mesmos, a plateia. No meta-artístico “Las Meninas”, Velázquez aponta a existência de um autor e de um consumidor; na obra de Tenfen, e em especial nesses dois títulos que discutimos aqui, o autor também afirma sua existência, apesar de que no conto “Nick Fourier”, que abre o “Casa Velha...”, este autor seja morto por sua própria obra. Eis aqui uma escatologia. “Nick Fourier” dialoga diretamente com “Um cadáver...” naquilo que diz respeito ao tema e à posição do autor Maicon Tenfen diante do mercado editorial, ou seja, o recorrente conflito entre arte e artesanato, criação e reprodução. Em “Canil para cachorro louco” o autor estabelece sua catarse, assume sua existência, liberta-se da prostituição literária e define-se enquanto artista que deseja contar uma boa história, mas não apenas isso.
“Um cadáver na banheira” conta a história de Jorge Gustavo de Andrade, personagem que foge de uma pequena cidade do Alto Vale catarinense com sua namorada e se instala em Blumenau, onde espera realizar o sonho de publicar seu romance de estreia, “O retorno do Alquimista”, e assim se transformar em escritor de sucesso. Entretanto, Jorge Gustavo encontra os muros praticamente intransponíveis do mercado editorial, e se vê forçado a recorrer aos préstimos de Suzana Fischer, proprietária de uma editora que publica os livros de autores que desejam pagar pelo serviço. Em um dos trechos da novela, Jorge Gustavo diz para sua editora Suzana Fischer: “É difícil definir um editor que tenha a cara-de-pau de publicar um livro que não foi analisado, mesmo quando é pago por quem o escreveu. Você é tão sem-vergonha que não se preocupa se publica arte ou merda – desde que um otário como eu assine um cheque – pois seu lucro não vem do livro em si. Vem do bolso do autor.” Vale lembrar que a primeira edição de “Um cadáver...” – bem como a edição do primeiro livro de Maicon Tenfen, “Entre a brisa e a madrugada” (1996) – foi publicada através de uma editora que cobrava de seus autores os serviços de editoração e publicação e não possuía logística de distribuição. Assim, a crítica que a novela destila destina-se, no âmbito geral, ao mercado editorial, excludente e monopolista; e, no âmbito particular, muito provavelmente a uma editora em especial: à própria que publicou a primeira edição de “Um cadáver na banheira”.
Os oito contos que compõem “Casa Velha Night Club” discutem, de alguma forma, o fazer literário e a presença do livro em nossa sociedade. Entretanto dois contos estabelecem essa discussão de forma mais incisiva, e são justamente o primeiro e o último do volume, como já apontamos anteriormente. Em “Nick Fourier” conhecemos a história de um escritor fracassado em suas pretensões de produzir “alta” literatura, e que ganha a vida escrevendo livros policiais de bolso e descartáveis. Quando decide se libertar do personagem que criara, matando-o (como tantos autores realmente tentaram fazer, não obtendo sucesso, como no caso de Conan Doyle, que matou Sherlock Holmes para ter que “ressuscitá-lo” depois), é por este morto. A mensagem de Tenfen é clara: o escritor que se entrega à indústria da cultura de massa pode até encontrar sua sobrevivência financeira, mas terá suas possibilidades artísticas assassinadas. De certa forma Maicon Tenfen retoma a questão em “Canil para cachorro louco”. Há um trecho onde o personagem Tenfen narra a Genésio Campanelli uma história que está escrevendo e diz: “A menina do meu conto também é devorada. Depois que crescem, as criaturas não costumam poupar seus criadores”. Não é, porém, de canibalismos que trata “Canil para cachorro louco”, mas de autofagia. Ao se lançar nas tramas da enorme teia narrativa, dissolvendo ficção e realidade no grande mar da linguagem, Maicon Tenfen, o personagem e o escritor, reafirma-se enquanto artista capaz de se inventar outro, novo, estabelecendo um texto muito bem construído, contando uma boa história e apontando para algo a mais.
E é justamente este “algo a mais” de “Casa Velha Night Club” que nos permite crer que Maicon Tenfen ainda se autofagizará muito, “enchendo seus textos de mensagens e ligações ocultas, jogando com o leitor e dizendo coisas que jamais teria coragem de dizer diretamente”, como certa vez me confidenciou Genésio Campanelli.

* Viegas Fernandes da Costa é historiador e escritor. Autor de “Sob a luz do farol” (2005) e “De espantalhos e pedras também se faz um poema” (2008). Edita o Sarau Eletrônico, site de literatura da Biblioteca da FURB. O presente texto foi originalmente publicado no Caderno de Cultura do Diário Catarinense, Florianópolis, 09/01/2010, p. 3.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Conversa de banheiro

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No banheiro de um Museu de Paris, Duchamp escolhe uma cabine e senta-se como quem, do trono, contempla seu reino. Magritte, na cabine ao lado, antes de sentar no vaso, saca do bolso lenços umedecidos com os quais limpa cuidadosamente a tampa - embora aparentemente limpa.

-Marcel Duchamp : Então Renezinho, vai assumir esse negócio ou não vai?

- René Magritte: Já te disse que não tenho nada a ver com isso, esses adesivos no banheiro não são meus, aliás, isso tá parecendo coisa tua. Primeiro você bota um urinol dentro do museu, considerando-o obra de arte. Agora, faz o contrário, transforma o banheiro em sala de museu - genial...

-MD.: Ah, não me venha com essa... o trocadilho infame com o “ceci nes’t pas une pipe” é a tua cara, aliás, não é tua letra ali, ó? e esse papo de resignificação também é bem do teu tipinho...

- RM.: É... até poderia ser, mas não é.

- MD.: Pô, até tu tá nessas agora de obra anônima é?, hehehe...

- RM.: Mas peraí, to olhando aqui melhor... tem algo a mais escrito aqui. Tô sem óculos, consegue ler?

- MD.: É mesmo... deixa me ver... ãahhnnn... blogstop, aliás, blogspot... ponto com... que diabos é isso?

Nessa hora, um brasileiro que estava limpando o banheiro se mete na conversa:

- Desculpa a intromissão, mas isto é um blog...

- RM.: Hein???

Brasileiro: - Ontem eu vi esses adesivos, cheguei em casa e acessei o site. São uns caras que estão fazendo isso nos banheiros de vários museus.

- RM.: Putz, tão usando a gente. E essa coisa de releitura, citação, já deu pra bola, coisa de oportunista...

Brasileiro.: Bom, eu não sou artista nem nada, mas... eu pirei assim: O museu é museu, certo? O banheiro está no museu. Então, o banheiro do museu é um museu? ou o banheiro do museu é banheiro? Se o banheiro do museu não é um banheiro, então ele é museu, ou o que?

- MD.: Ao ser ocupado pela intervenção, o banheiro do museu deixa de ser banheiro e passa a ser um espaço de arte, é isso que você quer dizer? (tsc, tsc, tsc) E quem são esses caras pra ir chegando assim, em nossos grandes museus de arte?...

- RM.(cortando a conversa): Acho melhor a gente voltar pro museu, todos estão nos esperando...
- MD: É mesmo, já estou aliviado também... aliás, acabou o papel...

- Brasileiro: Tá na mão... toma. Tenham um bom dia. E eu, por enquanto, vou continuar aqui pelo banheiro mesmo...

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